Meio cheio.

Vazio. Era para ser acolhedor, não? Não tem cor, música ou alguém por perto. Deveria ser a paz absoluta, alento para aqueles dias difíceis. Mas não. Ele potencializa tudo o que descartamos, ou melhor, fingimos não ver. Oprime, segrega, exclui. Era para ser bom, mas é o eco mais assustador que eu conheço.

Lembro-me como se fosse hoje a primeira vez que senti um vazio inexplicável. Eu tinha cinco anos e estava no palco improvisado pela escola, recitando um poeminha previamente decorado para a festa de dia das mães. A plateia cheia de mulheres chorosas, babando pelos seus filhos. E eu ali, representando para ninguém. O lugar que seria de minha mãe, que tinha até uma plaquinha com seu nome na cadeira, estava vazio. Eu sabia que ela não iria e tinha de me acostumar com isso.

Os anos foram passando e a lacuna de não tê-la por perto foi aumentando, já que ela cresce de acordo com o nosso entendimento das circunstâncias. Minha mãe não estaria para o jantar, não conheceria meu primeiro namorado, não veria meu sorriso ao comprar meu primeiro carro, não estaria presente para me ver jogando o capelo pro alto na colação de grau. E aquele buraquinho (mais que familiar) virou uma cratera de dar medo.

E lá se foram aniversários tristes, natais desanimados, dia das mães com choro contido no travesseiro. Nessas horas, você tem de aprender a esmiuçar o sentimento, até que ele vire lição. Para uns, eu fui uma coitadinha. Para outros, eu não fui assunto, de tão descartável que eu parecia.

Mas, e para mim? O que sou?

Para mim, sou alguém que abre a janela, olha pro céu bonito e acredita que o dia será da cor que eu pintar. Que nenhuma dificuldade é capaz de paralisar meus sonhos, inibir minhas vontades. Para mim, eu sou a certeza que tudo dará certo, que não é me vitimando que eu serei querida (pelo contrário), que não é o abismo que dita quem eu devo ser. Para mim, a vida é a melhor escolha, a felicidade a roupa mais bonita a se usar. Para mim, a certeza que as tristezas devem ser colhidas com sabedoria e que estou sempre optando pelo melhor caminho.

Para nós (eu e você) o vazio nunca será problema. Podemos aprender muito com ele também. Basta sempre ver o copo meio cheio. É numa perspectiva dessas que descobrimos o que precisamos fazer para virar o jogo. O vazio é elástico: ele se expande e reduz de acordo com nossas expectativas, e quando elas são boas, ele vira algo irrelevante de ser lembrado.

Se você se sente vazio por qualquer razão, procure por algo que possa preencher seus espaços.

Eu aprendi a curar minhas ausências enchendo a vida de palavras.

Aryane Silva

ARYANE SILVA
Enviado por ARYANE SILVA em 24/06/2013
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