Amigo de Infânica

7 h. Era acordado com a voz da cunhada, do outro lado da parede dizendo que estava indo trabalhar. Mas qual a satisfação que a cunhada deveria a ele, normalmente tanto faz a cunhada de alguém ir trabalhar ou não. Porém para ele era diferente, a cunhada sair para trabalhar, significava que por mais um dia teria que passar a manhã com o sobrinho. Íntimos demais, nem o chama de tio, apenas pelo nome. O garoto de uns 15 anos se levantava, comia um ou dois pães, tomava uma xícara de café para esquentar o corpo, e em alguns passos já estava na casa do sobrinho. O menino tinha uns 4 anos era moreno, magro, com um enorme cabelo cacheado, olhos negros, rosto arredondado e portador de uma inteligência não tão normal para a idade.

Como todas as manhãs ligavam o vídeo-game e jogavam aqueles jogos que ficam gravados no aparelho mesmo, não era tão atual, era meio antigo. Hoje já tem um modelo mais novo, e joga melhor que muitos adultos! Mas, naquela sala apertada-que era apenas um corredor-passavam horas se divertindo, na frente da TV até decidirem lanchar, isso por volta das 10:00. Como o vídeo-game não dava conta de mandar o tédio embora, tomavam uma atitude inusitada, começavam trocar cócegas (cada um querendo achar pontos mais fracos do outro), e posterior às cócegas, trocavam socos, pontapés, golpes, e até estrangulamento, não tinha tédio que resistisse!

Assim aquelas manhãs iam se passando, não duravam todo o dia, porque os dois estudavam a tarde mas no dia seguinte, se encontravam novamente para repetirem aquelas mesmas maluquices e ao mesmo tempo inovar... Hoje já não fico mais com o sobrinho, mas a relação é a mesma, sempre que nos encontramos fazemos as mesmas coisas, só não jogamos vídeo-game, porque ele joga muito, muito mais do que eu, como nunca tive muita intimidade com jogos eletrônicos, prefiro apenas ver ele jogar. Mas enfim, aquelas manhãs me fizeram refletir sobre minha tão pensada “maturidade” quando penso que cresci, me vejo cuidando do filho de quem um dia cuidou de mim. Me vejo como um espelho que reflete os mesmos cuidados que tive quando criança talvez não da mesma maneira, mas sim, com a mesma relação afetiva fraterna. Quem diria que o menino que foi cuidado pelo irmão quando pequeno, quando “grande” cuidaria do filho do mesmo?! É... isso a vida, a cada dia uma surpresa-Eu e Itallo que o diga!

Lucas Mota
Enviado por Lucas Mota em 26/06/2013
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