* Há uma morena que não sai da minha mente.
Parece que não tenho mais chance, que ficaremos afastados, no entanto eu não esqueço e, na verdade, nunca quis esquecer.
Devo ser o último dos românticos da Terra ou apenas um grande tolo apaixonado.
 
Cresci na época do “ficar”, porém só sei ficar saudável.
Gosto de conversar, olhar fixo nos olhos, desenvolvendo uma interação preliminar antes de praticar sexo.
Eu curto o ato de namorar, na forma tradicional, ou seja, se eu apenas namoro, não existe sexo.
Considerando, todavia, que a carne é fraca, à medida que o namoro ganha força, surge a vontade de bingolar e tudo flui com naturalidade.
 
Ultimamente quase não tenho bingolado, pois, pensando bastante na morena citada acima, não tenho me envolvido com outras mulheres, morenas ou não.
 
Essas informações ajudarão a entender o drama que eu vivenciei.
 
* Iniciando a minha crônica, durante um sábado do último janeiro, com o sol brilhando alegre, acordei nutrindo uma forte vontade de bingolar.
 
Eu não pretendia namorar, queria fazer sexo (bingolar = fazer sexo).
 
E agora?
Imaginei ligar para a morena e revelar a minha necessidade, porém ela, que está sem falar comigo há um bom tempo, provavelmente reagiria mal se eu ligasse expressando o meu desejo profano.
 
Desisti e pensei na possibilidade de ligar para uma amiga que talvez topasse transformar a relação numa amizade colorida, num namoro e depois finalmente numa parceria sexual.
Achei o enredo da história demorado demais.
Eu queria bingolar já.
Amigas antigas que viram namoradas não servem.
O clima de respeito prevalece, a gente, na hora H, fica pouco natural.
Meu corpo suplicava uma bingolada isenta de burocracia.
Queria algo rápido, eficiente e sem frescura.
 
Levantei, lavei o rosto, tomei um banho frio e fui comprar pão.
No caminho revi uma vizinha gostosa que, há cinco anos, se insinuou para mim.
Na ocasião eu não topei, pois ela é muito mais nova do que eu.
Seria agora uma ótima opção.
A diferença de idade não mudou, mas ela já estava crescidinha, não era a ninfeta inocente de outrora.
Percebi obstáculos intransponíveis.
Hoje ela não fala comigo. Deve ter ficado magoada imaginando que eu a esnobei.
 
Além dessa dificuldade, ela está namorando um rapaz fortão, um cara com várias tatuagens e apresentando ótimas condições de se tornar um figurante numa novela do Vale a Pena Ver de Novo.
A vontade de bingolar aumentou, mas logo desisti de paquerar aquela que já me paquerou, hoje preferindo um figurante global.
 
De volta ao AP, liguei para um amigo que curte "massagistas".
Após me escutar solícito, ele não usou meias palavras:
_ Ilmar, a solução para o seu problema é Lisa.
_ Quem é Lisa?
_ Lisa é uma massagista que vai te dar um grau.
 
Ele me deu a ficha completa de Lisa.
28 aninhos, corpo escultural, estudante universitária, discreta.
Eu indaguei se o nome da gata era Elisa, Lisandra, Lisaína ou Lisana.
O meu amigo não soube responder.
 
Ele explicou que, além da massagem, eu teria que pagar os táxis e o motel escolhido por Lisa.
Nada de marcar na residência do cliente.
O pacote oferecido por Lisa obedecia ao padrão FIFA.
 
Anotei o celular da moça e ouvi o meu amigo me incentivar dizendo que Lisa sabe eliminar as inquietações masculinas.
Fiquei bastante apreensivo.
Demorei uns cinco minutos, depois telefonei.
Escutando a voz deliciosa de Lisa, comecei a pegar fogo.
Gaguejando, fiz umas duas perguntas tentando compreender como funcionava a massagem.
Ela esclareceu que gasta cerca de duas horas “massageando”, mas, caso eu topasse gastar mais, a massagem continuaria.
 
Marcamos num shopping famoso da cidade.
Trocamos alguns detalhes objetivando facilitar o reconhecimento.
Entre outras coisas, ela disse que estaria com um vestido vermelho.
Finalizada a conversa, as circunstâncias indicavam que o programa prometia ser o maior sucesso.
Tudo parecia estar perfeito, mas não estava.
 
À proporção que o encontro se aproximava, vários questionamentos invadiram a mente despertando um sentimento de culpa.
Culpa? Por que sentir culpa?
Era o trabalho de Lisa.
Eu apenas precisava encarar a situação de maneira objetiva.
Não conseguia.
 
O primeiro problema diz respeito aos meus princípios éticos.
Jamais topei pagar pra bingolar.
Sempre fui contra essa idéia.
Agora cedia a algo que, no fundo, nunca considerei correto.
 
A idade de Lisa me fez recordar minha irmã.
As duas possuíam a mesma idade.
Eu, um quarentão bigodudo, transar com uma jovem que possui a mesma idade de minha irmã?
 
Para complicar mais ainda, lembrei de minha mãe.
Se soar estranho recordar minha mãe, não há nada esquisito.
Eu jamais me lembro de minha mãe.
Nós só lembramos de alguém que esquecemos, portanto minha mãe permanece o tempo todo inspirando os passos do meu coração.
 
Havia, entretanto, um motivo especial que me fazia pensar nela.
Nas nossas conversas, algumas vezes mainha me disse que eu parecia com ela na sua fase juvenil.
A grande timidez, o romantismo, o jeito sonhador e carinhoso eram características que minha mãe sempre alimentou.
Ela dizia que percebia em mim tais características.
Deduzi que, naquele instante, minha mãe não enxergaria qualquer semelhança com suas atitudes na fase das flores.
Envergonhado a vontade de bingolar praticamente desapareceu.
 
Não cancelei o programa.
Comecei a me vestir para sair.
Quando utilizava um perfume, pude ter a confirmação definitiva de que estava agindo com pouquíssima autenticidade.
Eu nunca usei perfume.
Sempre elas indagaram que perfume eu uso, eu respondo “Nenhum!”.
_ Não? Mas seu cheiro está tão bom!
_ É o perfume natural do meu corpo, fofa!
_ Ah, Ilmar! Você é tão gostoso!
 
Era óbvio que o rapaz o qual seguia rumo ao encontro era outra pessoa.
Eu precisava urgente reencontrar o velho e verdadeiro Ilmar.
 
No local do encontro, Lisa apareceu no horário estabelecido.
Realmente a jovem era deslumbrante.
Ela utilizava um lindo vestido vermelho que realçava um provocante decote no qual pude contemplar seios sedutores e convidativos demais.
Deu vontade de percorrer os “vales” sem receio de me perder.
 
Pedi dois sucos e informei a minha surpreendente decisão.
Disse que havia desistido da massagem, mas, financeiramente falando, ela não teria nenhum prejuízo.
Lisa não reclamou nem comentou coisa alguma.
Não deixou de beber o suco.
Ah! Que boquinha!
Que sutileza na forma de segurar o canudo!
 
Além de pagar os serviços que não desfrutei, paguei o táxi que a levou.
Após ela, com um leve sorriso, dizer “Tchau!”, o veículo partiu.
 
Aconteceu exatamente assim.
Dispensei toda a sensualidade de Lisa e não percorri os “vales” dela.
 
Apesar da imensa dor nos testículos que fiquei curtindo (os homens compreenderão facilmente essa parte), da grana que gastei, da solidão, do retorno sem concretizar a aventura, pensava em mainha e na minha irmã experimentando agora uma enorme satisfação.
A sensação era de dever cumprido.
Somado a isso, eu me senti eu.
Jamais aprovei massagens ou a prática do sexo artificial.
Não era justo, não combinava comigo!
 
No AP escolhi um DVD com um filme de ação, comecei a assistir.
A dor nos testículos foi sumindo, a vontade de bingolar enfraqueceu, os seios de Lisa foram desaparecendo do pensamento, a ausência da morena não incomodou, o sono gentil me abraçou.
 
De madrugada despertei e tentei lembrar algo sobre um sonho no qual eu estava correndo num grande vale.
Os detalhes escapavam, porém havia um vale e eu corria animado.
 
O sonho teria sido motivado pelos “vales” que eu optei por não percorrer?
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 29/06/2013
Reeditado em 29/06/2013
Código do texto: T4363526
Classificação de conteúdo: seguro