VIDA A DOIS
VIDA A DOIS.
Estávamos caminhando por uma das ruelas de Bari na Itália. Calados, olhávamos para a beleza do lugar. Roupas dependuradas nas varandas, todas com floreiras multicoloridas. Felizes por poder ver aquela cidade quase medieval, porem um pouco chateados, pois tínhamos discutido algumas horas antes. O motivo. Para falar a verdade nem me lembro, só sei dizer que foi por algo incipiente.
No final da rua, deparamos com uma pequena praça, estavam quase desertos, três bancos, dois vazios, e um com um ancião que aparentava mais de 80 anos, que em silencio mexia em algum tipo de jogo italiano. Passamos por ele, e o cumprimentamos cordialmente. O velho abriu um largo sorriso, e respondeu.
--- bom dia. - no idioma espanhol, provavelmente um emigrante.
--- respondemos os dois em péssimo castelhano.
Ele sorriu.
Caminhamos até o próximo banco e sentamos. Eu quando fico nervoso, fecho o semblante. A Preta, muda também sua fisionomia, e deixa transparecer completamente o seu estado de espirito.
PRECISO COLOCAR O DIALOGO QUE TIVEMOS COM O ANCIÃO EM PORTUGUÊS, POR DOIS MOTIVOS, PRIMEIRO QUE NÃO SEI CASTELHANO EM SEGUNDO EU VOU ESCREVER O QUE EU ENTENDI, NÃO SEI SE FOI BEM ISSO O QUE ELE DISSE.
Estávamos sentados quietos, quando o ancião veio e sentou no mesmo banco.
--- estrangeiros?
--- sim. - brasileiros. - completei
--- Brasil. País lindo.
--- é verdade. - respondeu a Preta. Sorrindo.
--- casados? - perguntou o velhote.
--- não. Somos namorados, e estamos em viagem de férias.
--- hum. Tempos modernos. - sorriu. - brigaram.
--- sim. - respondi ao mesmo tempo, eu e a Preta.
Outro sorriso, agora matreiro, como se soubesse de tudo o que estava acontecendo.
--- a felicidade de um casal depende de pequenos acertos. Às vezes um precisa ceder, para que o outro se sinta feliz, o ideal é haver alternância de consentimentos.
--- como assim? - indaguei
--- quando apenas um cede, o outro começa a se sentir inferiorizado, dai então pequenas desavenças começam a se tornarem grandes problemas. Um relacionamento há dois tem que ser de consentimentos multos. Estou casado há mais de 50 anos, tenho muitos defeitos, e ela tem tantos quantos eu, mas somos felizes.
--- puxa, 50 anos, um longo tempo. Como conseguiram isso?
--- aceitando cada um o defeito do outro. Quando o defeito é tão gritante, que ele não pode ser absorvido por um dos participantes do relacionamento, então pode ter certeza de que ele não ira perdurar por muito tempo.
--- isto significa que nem o senhor, e nem ela tem defeitos GRITANTES.
O ancião sorriu.
--- claro que temos.
--- então como conseguem se manter juntos por tanto tempo.? – indaguei, porque a situação ia contra o que ele acabara de me explicar.
--- amor amigo... Amor verdadeiro, quando se ama de verdade os grandes defeitos se tornam pequenos, então dai conseguimos controla-los, mas somente quando se ama. ENTENDEU.
Eu ainda estava raciocinando. Quando vem em nossa direção uma mulher gorda, branca como neve, gritando loucamente.
--- pouca miséria... Vamos Josef, a comida esta esfriando, não sei o que tanto você faz sentado neste banco. Vamos.... Antes que a comida se esfrie.
O ancião levantou-se acabrunhado. Sorriu.
--- ISTO É AMOR.