Passeata sem liderança é mídia

É inacreditável que as movimentações tão intensas em forma de passeatas não tenham se refletido no problema mais profundo da economia nacional: a insuportável carga tributária. Esta por sua vez surge com nome tão delicado que não representa a catástrofe política real que representa. Quando falamos em “carga tributária” já temos o eufemismo. A quantidade de tributos é a grande tragédia nacional e precisaria de mobilização única e indivisível.

Com ela se locupletam os marajás do Estado. O próprio Estado torna-se marajá do povo de modo repugnante. Diferente da ideia de que nação forte se constrói com impostos, mas digamos de passagem impostos redistribuídos em obras sociais reais. A arrecadação astronômica não se justifica em termos de qualidade de vida do povo brasileiro. Mas para onde vão os impostos? O que temos apreciado em inúmeros recortes de jornais é exatamente o contrário dos impostos investidos firmemente em qualidade social.

Todas as outras reformas políticas são paliativas e de pouca representatividade histórica, são festivais, emocionais, perdem-se na miríade de focos como numa chuva de prata. Muita gente reunida pode ser show de rock ou celebração religiosa de cunho particular na multidão.

Mas e as passeatas da atualidade? Todas impulsionadas pela experimentação de novos mecanismos de mídia em ação no campo das opiniões. São as novas libações virtuais, os novos impulsos inseridos no campo político pela tecnização das opiniões. Fenômeno atualizado onde os fluxos desestabilizadores representam vantagens de interesses externos, permitem a dimensão pulverizada da realidade nacional em seu esboço de realidade manipulada. Seu êxito consiste em perder-se da identidade partidária, diluir-se na ausência de legenda clara. Prova cabal da descrença na representatividade como ela se oferece, nutrida de um mar de corrupção numa ilha de leis, agora, com efeito, comentado em tópicos altamente abrangentes.

Por sorte somos brasileiros e isto nos dá grande vantagem sobre a história no que tange a manutenção da civilidade como objetivo primeiro de tais manifestações. Repudiamos o vandalismo e garantimos a democracia pelo modo como procuramos mudar nossa novelesca realidade. Infortúnio evidente é de que tenhamos duvidas sobre qual meta básica devemos imprimir contra a arrecadação escravagista de impostos sobre a cidadania oprimida em seu mundo de possibilidades. A luta pela diminuição da aviltante arrecadação versus fortalecimento da economia popular seria o primeiro grande foco de mudança efetiva. Esta proposta única sobrepõe todas as demais, incluindo a gerência duvidosa dos recursos na qual passa pelo processo desgastado da representatividade.

Plebiscito? Plebiscito somente com uma única indagação: impostos reduzidos ao máximo? Sim ou não? Isso representaria a maturidade política da nação como jamais se viu em termos de participação coletiva. Segmentação condicionada por meios de informação de massa, cujo reflexo segmentado representa o bulingue como principal característica. Bulingue do povo contra o partidarismo incapacitado de se representar no novo tempo de informação tecnizada. Tempo em que o indivíduo se representa o bulingue é contra a sua péssima representatividade.

Triste mesmo é suportar “vândalo” ocupando primeiramente as manchetes dos jornais, jornais se alimentando da falta de nacionalismo, pendendo para o sensacionalismo da balbúrdia desatinada. (Foco cientificamente elaborado para domínio da consciência engessada em conceitos mal refletidos em sua profundidade mal coletivizada). Os jornais desejam atrair um responsável sempre aos fatos, mesmo um bode expiatório. Chegam a movimentar as antenas individuais para o lado dos anarquistas. Como se os anarquistas fossem entidade organizada o que seria esdrúxulo. Os meios de comunicação de massa estão profundamente enganados sobre esses fatos coordenadores de passeatas. Reduzidos a tradição maniqueísta da informação dominada por grupos bem definidos os meios de comunicação estão impactados. Precisam de urgente reavaliação sobre o papel no desenvolvimento da realidade. Mas as novelas cheias de virtudes estão longe de vender ao mercado da ilusão uma côdea de realidade.

Temos nesse espanto uma novidade cintilante: o indivíduo está fortalecido, mesmo sendo facilmente dobrável, mesmo diante de sistemas complexos, leis complexas, corrupções de alta complexidade, eventos globais. O indivíduo está fortalecido, mas pouco ciente da sua expansão em termos construtivos. Precisa ter a mente fortalecida por propósitos mais abrangentes e libertadores como o fim da farra tributária.