* A querida amiga Ceiça sempre me incentiva a elaborar crônicas.
Dessa vez eu vou escrever uma bem fresquinha.
Diz respeito a um episódio ocorrido na tarde de ontem, sexta-feira.
 
Aqui, em Salvador, quando pensamos em pegar um ônibus, sabemos que é preciso ter paciência e bastante perseverança.
Os denominados buzus são desconfortáveis pra caramba.
A quantidade é insuficiente.
O serviço oferecido deixa a desejar.
 
Objetivando chegar ao trabalho, eu esperava o buzu habitual numa fila comprida. Na hora que o ônibus encostou, aconteceu uma invasão.
A maioria dos invasores era composta por jovens, porém adultos e até idosos participaram do ato selvagem.
 
Depois que a triste confusão cessou, fui um dos últimos a subir, me posicionando próximo à porta do meio.
Na minha frente estava uma mulher carregando uma criança.
Sentados, ao lado dela, vi estudantes.
Ficou claro que eles disfarçavam o olhar para não cederem o lugar.
Desenvolvi uma certa expectativa aguardando quem seria solidário e romperia a indiferença.
 
Enquanto isso, eu comecei a refletir.
Costumo pegar ônibus com pouca coisa nas mãos.
Geralmente uso um classificador azul magrinho, contendo um caderno também azul e o material que utilizarei nas aulas.
Evito carregar um classificador cheio.
Quando levo algo a mais, fico embaraçado e preciso me virar nos trinta (dificilmente pedem para segurar meu classificador).
 
Na minha frente, entretanto, uma mãe carregava seu filho com a maior tranqüilidade, sorridente, sem nenhuma expressão de incômodo.
A criança brincava, se mexia, mas ela permanecia inabalável e segura.
 
Que força!
Oh! A maternidade é mágica!
As mães são mais fortes que qualquer outro ser humano.
A energia das leoas parece impulsionar essas fascinantes mulheres.
 
Posso afirmar que todos tombariam caso o veículo freasse bruscamente, contudo aquela mãe continuaria firme segurando a criança, que, ignorando os detalhes filosóficos da situação, não cessava de dançar descontraída.
 
Que maravilha!
Que aprendizado!
 
* De repente, cerca de dez minutos depois, um rapazinho, percebendo a senhora e o filho, ofertou o assento.
Pude notar um "barulho" especial nesse instante.
Uma alma garantiu sua vaga no Paraíso e o Céu aplaudia a atitude.
 
Essa vaga deve ser festejada, pois, segundo os evangélicos, o número de salvos é reduzido.
Imaginam os seguidores do protestantismo que as chamas eternas ameaçam a maior parte das pessoas.
Felizmente o jovenzinho conseguiu escapar do terrível castigo reservado aos condenados.
 
No final tudo terminou de forma favorável.
A mãe serena e sentada levava o filho.
A criança, se antes brincava em pé, agora fazia a maior algazarra nos braços maternais.
 
O jovem rapaz, seguindo a lógica tradicional do tempo, deve desfrutar uma existência longa e, quando encerrar a jornada terrena, será recepcionado por anjos ansiosos querendo recompensar a ação gentil.

Segui a viagem em pé, incerto quanto à minha sorte futura, entretanto satisfeito e abraçando uma lição preciosa.
 
* Considerei legal demais o quanto eu aprendi.
 
As mães são mais fortes do que o Sansão ou o Hulk.
 
Sentadas, elas desfrutam de um conforto justo, todavia, em pé, elas nunca perdem a dignidade nem o rebolado.
Jamais uma mãe permitirá que o filho caia ou corra qualquer risco.
Eu não sei como é, mas sei que é assim.
É incrível!
 
E a criancinha?
Ela, sem supor que seria uma das protagonistas da minha crônica, sapeca e alegre, não cansava de brincar celebrando a incontestável beleza da vida.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 06/07/2013
Reeditado em 06/07/2013
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