Por ironia do destino.

Era o ano de 1985, um lindo dia de domingo, mas data e mês, não me recordo bem, moro ás margens do rio Paraíba, para quem não o conhece é um rio brasileiro que banha o estado da Paraíba. É um dos mais importantes do estado devido a sua extensão e à relevância econômica, que nasce na Serra de Jabitacá, município de Monteiro, divisa com Pernambuco, o qual percorre várias cidades e povoados , essas informações é só para uma melhor compreensão, nesse dia acima mencionado, fazia um sol escaldante e apesar de ter apenas 7 anos de idade, me recordo cada detalhe do fatídico dia, eram tantas borboletas voando, tantas cores, alucinantes, como crianças de interior, pés no chão, correndo, brincando, colhendo borboletas, mas eram tantas como jamais presenciado até aquele dia, na vitrolazinha tocava um disco de vinil do cantor Amado Batista, recordo-me a música, um acidente e a música hospital, minha mãe repetia e repetia a mesma música a tarde inteira, nossa! Colocamos as roupas dos guarda- roupas para esquentar, porque era um sol muito quente, lá pelas 3 horas da tarde se formou uma enublação forte, nossa! Como chamamos aqui, uma barra escura, pesada, e logo as 4 horas colocamos as roupas para dentro e entramos para nos banharmos, foi quando começou um forte temporal, a gente trancados dentro de casa, parecia que o teto iria desabar, umas 6 horas da noite, meu pai havia frito uma bandeja enorme de peixe e o cuscuz feito no fogo a lenha, em cuscuzeira de barro, cozinhava e perfumava a casa, de repente meu pai fala, para ficarmos alertas que o terreiro, ou quintal como desejar chamar, já estava inundado, eu ardia de febre, inexplicável, aquela febre repentina, estava no colo de mainha, faltou luz, nossa pavor total, os trovões eram estrondosos, o relâmpago parecia que ia entrar na sala onde estávamos, iluminava tudo, atrás de nossa casa, em terrenos de vizinhos eram olarias, faziam tijolos e telha de modo manual, então tinham barreiros enormes, crateras sem tamanho, e acima num alto tinham açudes um pouco longe, onde chamados de cipoá, pois é terreno para agricultura, geralmente arenosos, voltando, esses açudes deságuam ao transbordar, caindo em outros e outros, até chegarem a baixa, onde ficam os barreiros das olarias que um transborda para o outro e chegou ao nosso quintal, nesse momento que meu pai nos alertou, logo invadiu nossa casa pela porta da cozinha, e saímos de casa guiados por candeeiros, acesos e a chuva forte, fomos para outra rua, quase morri afogada porque o rapaz que me levava caiu em um esgoto aberto, nos cobriu, pessoas nos puxaram porque tinha a luz do candeeiro na mão do moço, mas estávamos submersos, então esse amigo nos acolheu em sua casa, e voltaram para tentar salvar algumas coisas nisso, o rio Paraíba sai á rua eles tiraram muito pouco, uns ajudando os outros, a água deu 1m e 20cm na rua, e a nossa casa veio a desabar com o encontro das águas, era uma casa de pau á pique, ficamos desabrigados, começaram construir imediatamente um conjunto residencial, assistir-nos com a defesa civil com cobertores, roupas, comidas, etc, agora vem o ponto central da história, dias depois, tudo normalizado, meu vô procura o prefeito para pedir que nos deixe entrar numa casa daquela nem que seja sem porta nada, tendo telhado tá bom, o rapaz na época falou: - Você construiu casa aqui? Tenha paciência, engraçado, foi dado casa a quem num precisava, e a gente estava na casa dos outros, incomodando e sendo incomodados, sem privacidade, etc, meu avô falou para ele que fizesse bom proveito das casas e então jurou que nem na hora da morte queria nada dele, juntou um mutirão e construiu uma casinha de 2 vãos, onde morávamos 6 pessoas, casa de pau á pique, que chamamos de taipa, na sala era a oficina de ferreiro, e no outro onde dormíamos e cozinhávamos, dormia no chão, sem luz, mas felizes por estarmos no que era nosso.

Passado os anos, um dia meu avô faleceu, minha mãe foi comprar o caixão e providenciar o enterro, ironia que só tinha uma casa funerária era justamente da parenta desse moço, ex prefeito, minha mãe ao chegar lá ele estava e não deixou minha mãe comprar, ele deu tudo que precisava para o enterro de vô, a ironia está nas palavras de vô que disse que: "Nem na hora da morte queria nada dele".

Moral da história, não sabemos o que dizemos, não conhecemos o amanhã, arrogância, de nada nos serve, ele teve razão no que disse, e realmente ele, em vida, nunca o procurou, jamais o pediu mais nada, por uma questão de honra, mas até onde vai nossa honra? Pois se viu enterrado por ajuda de quem jurou nunca aceitar, assim fica para nós a lição de que não devemos falar pelo amanhã porque não sabemos o que o destino nos reserva.

poetisa adorável
Enviado por poetisa adorável em 11/07/2013
Reeditado em 12/07/2013
Código do texto: T4382458
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