* Eu recebi um e-mail anônimo no qual alguém queria compreender a expressão “sair de casa”.
Quem me enviou a mensagem dizia que a expressão estava provocando uma enorme dúvida.
Ponto final!
O e-mail não dizia mais nada.
 
Fiquei sem entender como a pessoa conseguiu o meu e-mail e o que levou a misteriosa pessoa a pensar que eu saberia responder a questão.
Principalmente, desejei demais saber o sexo do destinatário.
Seria uma gata deslumbrante?
Ah! Ela poderia vir a ser minha futura noiva?

Eu sou um rapaz gentil e solícito, portanto decidi “comprar a briga”.
 
Eu respondi exatamente o seguinte:
 
“Senhor anônimo ou senhora anônima,
 
Fiquei feliz sabendo que a expressão está causando enorme dúvida.
Por quê?
Se existe dúvida, você tem uma opinião formada sobre o assunto.
Após a minha participação especial, a dúvida poderá sumir.
 
Horrível seria se você tivesse uma enorme dívida.
Nesse caso, eu não poderia tentar te ajudar.
 
Continua!”
 
* Não sei se vocês concordam comigo, mas acho que comecei bem.
 
A brincadeira sobre a dúvida que não é dívida estreita os laços.
Se quem enviou a mensagem for uma anônima, eu posso futuramente conhecer a gostosona (oba!) e me dar muito bem.
Sem dúvida, vale a pena prevenir!
 
O suspense que eu criei deixa claro que eu dou as cartas, ou seja, não é assim, chegar perguntando e obter uma resposta.
Quanto mais difícil eu parecer, mais eu serei respeitado.
É importante ajudar sem ceder exageradamente.
Quando a gente se abaixa demais, vocês recordam o que ocorre.
 
Recebi um outro e-mail dizendo:
 
“Agradeço demais a atenção, professor!
 
Aguardo, com ansiedade, a continuação!”
 
Com ansiedade?
Por que não “ansioso” ou “ansiosa”?
 
Seria um marmanjo ou uma moça carente quem estava no outro lado?
 
Eu apresentei minha resposta sem ansiedade nenhuma, pois eu não sou obrigado a saber analisar a expressão “sair de casa”.
 
Fiquei muito à vontade para dar uma simples opinião.
 
* “Continuando, imagino duas possibilidades.
 
A expressão “sair de casa” pode estar relacionada ao ato de deixar a casa dos pais procurando uma sorte melhor na cidade grande.
 
Antigamente isso costumava acontecer.
Os rapazes da roça saíam de casa tentando um emprego na capital.
 
Atualmente o progresso vem invadindo as pequenas cidades.
Além disso, os jovens estão mais preguiçosos e preferem ficar o dia inteiro teclando bobagens na frente do computador.
 
Essa é uma possibilidade, amanhã eu explico a segunda.”
 
No dia seguinte escrevi:
 
“Continuando, imagino também uma segunda alternativa.
 
Antigamente as mocinhas virgens, quando descartavam a virgindade, provocavam o seguinte comentário:
“Fulana saiu de casa.”
 
Se conheciam o rapaz que provou o doce da ex-virgem, diziam:
“Fulano tirou Fulana de casa.”
 
Percebemos que a expressão, nesse sentido, é totalmente arcaica.
 
Nos dias modernos, as moças dificilmente param em casa.
Conhecendo um rapaz, não há nenhuma cerimônia quanto a perder ou não a virgindade.
Vale ressaltar que o rapaz encontra até dificuldade em conhecer uma moça virgem, portanto jamais ela poderia “sair de casa”.
O “endereço” da casa já foi esquecido há tempo.
 
Além disso, as mocinhas transam nos motéis, nos becos, nas esquinas, nas encruzilhadas, porém transam também nas suas próprias casas.
Elas convidam o cara para dar a bingolada na casa delas sem qualquer problema.

Enfim, se a idéia é transar, é desnecessário “sair de casa”.
 
Espero ter ajudado!
 
Um abraço!”
 
* Após dois dias, recebi a seguinte mensagem:
 
“Adorei a sua explicação, querido professor!
Acabaram as minhas dúvidas.
 
Você é um amor.
 
Um beijão!
 
Gata dos Sonhos!”
 
Caramba! Era uma mulher!
Qual seria a idade?
Por que ela me procurou?
Por que só se identificou na última mensagem?
Existiria uma segunda intenção nos propósitos dela?
 
Hoje faz dois meses que recebi o e-mail final da “Gata dos Sonhos”.
 
Já tive vários pesadelos pensando no assunto.
Ela ficou sem dúvidas, mas passou todas para mim.
 
Se essa história alcançar um final feliz, ela voltará a me escrever propondo uma inteligente substituição.
 
A expressão “sair de casa” mudará para “sair comigo”.
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 20/07/2013
Reeditado em 20/07/2013
Código do texto: T4395668
Classificação de conteúdo: seguro