UM AMOR GENÉRICO

Sou de uma época em que o amor chegava devagarzinho, embrulhado com respeito, admiração, carinho e boas intenções. Vinha de coração aberto, querendo permanecer.

Exceções, porém, sempre existiram. Casei com uma delas. Fui ludibriada por um pacote de falso papel, que fui rasgando durante muitos anos, até nada mais dele restar.

Não perdi a esperança. Sou guerreira. Fui em frente. Experiente, descartei vários embrulhos, só esqueci que coração, é terra em que ninguém manda. Ali estava o meu se derretendo todo, sem nenhuma precaução. Não tive cuidado com o papel e muito menos com o conteúdo. Tarde demais, dei amor e recebi paixão – carne sim, sentimentos não. Era meu passado de volta, o mesmo que repudiara, com a diferença de que, agora o tempo não estava me dando forças para o descarte.

No diálogo com minhas emoções, a resposta era sempre a mesma: melhor queimar-se no fogo da paixão, que ficar ilesa, mas de mãos vazias; doe-se sem cobranças; oferte sem retorno; assim é o amor, em sua verdadeira essência.

Ah! Mas essa essência não dorme e nem acorda mais em camas modernas - respondia minha reflexão, cuja voz continuava a falar: veja bem, seu coração diz de uma língua que ninguém mais entende; pare de chorar sobre túmulos inexistentes e aproveite a festa que a vida lhe oferece. É pegar ou largar!

Desafios? Comigo mesma! Quem é nosso maior inimigo? Nós mesmos, através de nossa mente, sempre tão próxima, porém, tão distante! Nesse sofisma, nessa batalha, eu estava a perder – meu coração pulsava com minhas emoções.

Entreguei os pontos. Fiz dele minha arma, meu canhão. A cada reflexão, um tiro certeiro. Se não tinha remédio, remediado estava. Se o amor que eu desejava, estava tão caro, por que não usar seu genérico? Era só uma questão de adaptação!

Tentei. Por um grande espaço de tempo, fiquei a esperar que os princípios ativos dessa medicação, curassem meus conflitos. Vã esperança. Conseguiam, sim, anestesiar-me nos momentos de paixão. Depois deles, só me restava a indigestão prolongada do vazio.

A cura do meu mal, só fui encontrar na receita prescrita por meu amor próprio, por minha dignidade. Em algum cantinho deste mundão, talvez eu venha a encontrar o que procuro. Vale esperar!!!

Ercy Fortes
Enviado por Ercy Fortes em 21/07/2013
Código do texto: T4397448
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