Até o jumento riu de um burro!

Na vida acontecem coisas muito gratificantes, por exemplo, enguiçar um carro por falta de combustível em uma rodovia de pouco tráfego e por ali passar alguém montado em um jumento, e oferecer-lhe carona até um posto, localizado a dez quilometro de distancia. Isto aconteceu comigo, e o homem do jumento foi até capaz de me trazer de volta até o ponto do enguiço. No retorno é que lembrei que teria sido mais fácil dar-lhe o dinheiro e pedir para trazer-me a gasolina. Não teria sacrificado o animal com o meu peso, não teria me sacrificado com tantos solavancos, e nem teria esfregado a minha barriga em um casaco de couro.

Mas de toda sorte foi bom descobrir que no mundo não estamos sós, embora nossas línguas sejam diferentes; a do animal e a deste “jumento” que aqui escreve. Falar em jumento, um animal que de certa forma pequeno, é remeter o pensamento do leitor para coisas gigantes. A tal da desproporcionalidade reprodutiva. Pois sem aquele agigantado órgão não veríamos outros jumentinhos a pastar. E pensar que aquele animal suportou sem reclamar o peso de dois homens nele montado, cerca de 150 quilos (dez arrobas), sendo 90 quilos do reforçado cidadão eu, bem alimentado, e 60 quilos de um sertanejo do corpo fininho, que se pela boca pouco entra, menos sai de reclamação. Um conformado!

Mas estava gratificado por ter conseguido resolver um problema que poderia não ter acontecido, caso eu tivesse mandado completar o tanque antes de sair de minha cidade, já pequena, para ir a uma “mais menor” como alguns dizem. Relaxei e e senti o "castigo" pelo meu descuido. Mas algo de pior ainda estava por vir. Ao abrir a tampa do tanque de álcool... Isso mesmo de álcool! Foi ai que me lembrei que o carro que peguei emprestado é movido a álcool, e eu tinha comprado gasolina! Desta vez pedi ao homem sertanejo que fosse ao posto sozinho, para efetuar a troca dos combustíveis. Meia hora depois ele voltou: “Num trocaram não”.

O frentista do posto alegou sobre a garantia que ele teria de que na botija, em que cabem cinco litros, não se havia retirado um litro de gasolina e completado com xixi. “É tudo amarelo”, disse ele ao meu amigo sertanejo. Mandei agora uma outra botija que sobrava no porta-malas para que me trouxesse o álcool, que colocado tanque, virei a chave de ignição e “roim, roim, roim, roim”, o motor do carro não pegou. Minutos depois o sertanejo, com a simplicidade, marca desta gente, disse: “Eu acho que é porque tinha a volta de um litro de água na botija. E eu e o frentista pensamos que você queria era só completar”. Pois é! A água e álcool é tudo branquinho. Nesta hora o jumento soltou um zurro, como se de mim estivesse rindo!