Quando o fim chega...

"Amor, então,

também acaba?

Não, que eu saiba.

O que eu sei

é que se transforma

numa matéria-prima

que a vida se encarrega

de transformar em raiva.

Ou em rima."

[Leminski]

É tudo confuso como fazer versos à beira-mar, depois quando se precisa escrevê-los não os têm mais na memória, no suave perfume, o que fica apenas é a suave impressão dos dias que passam. Como um rosto amigo que se descobre em prantos por causa de outro, e uma pá de terra.

Eu dei a mão a minha sombra, sorri, chorei, tremi até os cabelos e suei quando foi preciso. Hoje, sento comodamente, olho o mundo e não quero dizer nada, tudo já esta dito. Hoje tenho uma boa companhia...

E quando me perguntas porque sorriu, em plenas 3 horas da matina, eu canto uma música qualquer de Renato Russo, respondo com alguns versos de Shakespeare, que domino e faço-os meu.

E tudo o que eu procuro é minha outra contra-parte, a antítese de minha tese...

Minhas costas doem, no meu pescoço há uma arranhão, no rosto um corte de navalha, na cama um vazio gelado.

Estendo as mão, vejo flores amarelas, flores fúnebres... sonho com rosas azuis. Mas antes de tudo, paro e penso no teu vulto a esconder-se por trás de tantas palavras que não conheces e que desprezas, como a mim...

E falo francês... regurgito algumas lembranças...

Por quem me tomas que pensastes que poderia me enganar?

Tomo a garrafa de vinho, bebo um pouco de sangue, duas lagrimas percorrem a face de anjo perdido. Fogo!

Tiros na escuridão...

Destruo o texto, quero poemas!

No entanto, minha respiração corre como os dedos sobre o teclado.

Corte, ruptura, precisão...

Nada.

Ser nada... ser pessoa, no entanto, sombra de outros nomes que já passaram. Navio fantasma apregoando novas filosofias. E o velho filosofo foge de dentro de mim. Tenho alma de velho, espírito de duende e corpo de um destes filhos de Lúcifer, anjo-demonio.

A taça que seguro entre dois dedos oscila, brinca com a gravidade, com a verdade certa e derradeira. Para lutar contra o acaso é preciso viciar os dados.

Eu sonho... e escrevo, e bebo, e deliro...

Mas sempre acordo, sempre há vida, realidade e o quarto vazio com o quadro de Kandinsky gritando na parede que o nada ecoa, e o fim existe!

Ev
Enviado por Ev em 07/04/2007
Código do texto: T440539