BRIGANDO COM FANTASMAS

Há pouco tempo havia me mudado para aquela casa antiga, mas muito agradável. Fatos estranhos começaram a acontecer. No meio da noite acordei com o clarão de uma lâmpada que se acendeu. Fui verificar, todos estavam dormindo, as portas fechadas, ninguém transitando por ali. Tudo bem, é normal um interruptor destravar e a lâmpada apagar, mas acender?

No dia seguinte foi a vez da descarga do banheiro disparar várias vezes sozinha, chamei um técnico que arrumou tudo, deu as explicações do que estava acontecendo e disse que isso era normal. Não me convenceu!

Passou uma semana e tudo começou de novo. Escutávamos o barulho de coisas rolando, sem nada sair do lugar. Surpreendi-me com um garoto parado junto à mesa da copa, fui-me aproximando dele e de repente desapareceu. Procurei-o por todo lado, nada. E o menino estava ali, podia descrevê-lo em detalhes. Minha ajudante começou a ficar apavorada, não queria mais ficar sozinha na casa. Foi um grande esforço acalmá-la.

A comadre que é espírita veio me visitar. Contei-lhe o que estava acontecendo. Imediatamente se propôs a ajudar. Fechou os olhos e ficou estática concentrando-se, o tempo passava e ela não se movia. Isso me assustou mais do que tudo. Comecei a sacudi-la e enfim voltou ao normal. Disse que havia a presença da alma de uma mulher ali, eu deveria colocar sal grosso pela casa e fazer a oração do descarrego.

Depois que a amiga foi embora, tentei entrar no meu quarto, não conseguia por mais força que fizesse, algo que eu não via me impedia. Perdi a paciência, mesmo não sendo espírita peguei a oração do descarrego e comecei a fazê-la. Que arrependimento, minha cabeça começou a queimar, como se estivesse pegando fogo. Parei antes de terminar, aquilo não era coisa para amadoras.

Dei-me por vencida. Disse à tal presença que ficasse com a casa, além de deixar o garoto aparecer sem parar, já havia se apossado dos banheiros, das lâmpadas e agora do meu quarto. O que viria depois disto? E o pior, eu estava prestes a perder minha ajudante que há dezessete anos estava comigo. Isso era golpe baixo. Ia torcer para que o comprador fosse um bom exorcista.

Agora na nova moradia tive sossego, uma paz, tudo tranquilo, consigo até curtir os sinos da igreja tocando e o apito gostoso do trem. O único problema é que a linha férrea mais próxima está a quilômetros de distância e não há sinos na igreja. Boca de siri, não vou contar isso para minha querida ajudante de jeito nenhum!