Perdão a todos os jovens desse mundo.

Como pessoa adulta, eu peço perdão.

De tantas vezes que me calei quando não poderia. Do que deixei de fazer quando eu tinha alguma importância.

Precisou vir o Papa ao Brasil para falar o que já deveríamos ter feito.

Fomos nós, os adultos, que nos esquecemos de falar preciosidades no cotidiano para vocês, pessoas em formação.

Esquecemos de falar do amor verdadeiro, do sorriso meigo, do entendimento, do bom aconselhamento. Esquecemos de falar que o perdão liberta. Como todas as boas decisões, o perdão liberta.

E nos esquecemos de nos abraçar fraternalmente e de agradecer a Deus por todas as coisas, incluindo as perdas, as situações de dúvida e que, eventualmente, acreditamos ser situações injustas.

Da mesma forma, esquecemos dos presentes. É. Dos presentes. Bom mesmo é passar o ano todo fazendo o presente de Natal, o presente único para Jesus, o mais importante aniversariante da História. Fazer o presente de Natal é ir, aos poucos, usando da fraternidade como caminho de vida. Serenidade, respeito e partilha como experiências de superação do egoísmo e busca de altruísmo.

Esquecemos de falar de Deus para vocês e sequer apresentamos uma pequena parte do manual da felicidade, isto é, do Evangelho. Manual da felicidade sim, pois tudo está ali, escrito e próprio para o bom entendimento.

Deixamos que vocês se inebriassem pelo mercado.

Ah o mercado! Aquele que prometeu a vocês todas as cores e sonhos. Ofereceu a ideia de que vocês seriam mais, melhores e únicos a partir de uma ou de várias grifes. Prometeu alguma felicidade que, de tão efêmera, se tornou insaciável.

Esquecemos de sorrir para vocês em momentos tão difíceis e passamos a fazer acusações e julgamentos pelas costas, sem que o ofendido pudesse explicar as suas razões.

Esquecemos de lhes dar limites – aqueles limites que se relacionam ao bom senso, ao enxergar o outro e a compreender que o outro também tem lugar, espaço, vontade e sonhos. O outro tem importância, significado e também erra e, por isso, poderíamos nos entender muito bem nas nossas limitações.

Foram os adultos que inventaram uma pedagogia estranha, a de que tudo é relativo, que a vida é complacente, passível e que o outro é menor e tem menos valor que você. Inventamos uma pedagogia barata, apontando algumas versões estranhas, como se limite fosse censura e que vocês poderiam ficar traumatizados por um simples NÃO.

A vida nem sempre é tão colorida ou risonha. Ela é difícil sim. E também nos esquecemos de dizer que a ela pode ser adicionada poesia e as mais variadas formas de arte.

Os adultos resolveram achar os erros de vocês muito engraçadinhos e, por preguiça ou descaso, resolveram fingir que não haveria nenhuma consequência em continuarem equivocados. Passaram a mão na cabeça de vocês e disseram – “esse garoto”...

Fingiram modernidade ao aceitar as facilidades do sexo e do amor barato, banalizaram os sentimentos, fazendo acreditar que a traição é tão natural e nem doi.... Afinal, tudo tem que ser como EU QUERO. O outro é simplesmente o outro e o problema da dor da traição é dele.

Como adulta, peço perdão.

Veio o Papa Francisco e falou para uma multidão de jovens que estava morrendo de fome nas areias da praia. Jovens do mundo todo morrendo de fome na Copacabana, princezinha do mar... Jovens da Itália, Argentina, Angola, Colômbia, Estados Unidos, Canadá, de toda parte. Estômago roncando de fome por serenidade, ética, justiça, compromisso, ternura pela vida, amor a tudo aquilo que Cristo nos trouxe.

O Papa tratou de popularizar Jesus entre os jovens, porque os adultos, ah! esses não têm mais jeito. Estão viciados no jogo do poder, do comodismo dos que já conseguiram ou quase conseguiram o que queriam de material.

São vocês, jovens, que agora têm como buscar aquilo que não soubemos lhes dar.

Peço desculpas a vários alunos que tive. Pelo cansaço exaustivo, absurdo e absoluto, em alguns momentos eu não soube fazer com que vocês fossem provocados a se tornar pessoas melhores. Eu me calei algumas vezes por não me aguentar mais o cansaço visceral e inominável de trabalhar por três décadas também acreditando que os pais deveriam estar presentes...mas estavam muitas vezes coniventes com algumas artimanhas dos seus rebentos e só. Recebam as minhas desculpas sinceras.

A vergonha faz corar. Francisco fez o que os pais e professores do mundo deveriam fazer, se tivessem um pouco mais de compromisso com a vida , com a felicidade e com o futuro da humanidade.

Ouçam, jovens, ouçam e pratiquem a serenidade, a caridade em compreender e partilhar as maravilhas da existência, a beleza da ternura e do afeto desmedido, porque nós, adultos, nos perdemos nos compromissos ditados pelo tempo.

Sejam mais felizes que nós, mais bonitos por dentro, com alma mais doce e olhar mais brilhante.

Tenham coragem de viver em paz. A coragem que nós, adultos, ficamos devendo para vocês.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 28/07/2013
Reeditado em 29/07/2013
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