MINHAS TELAS
 
(Claude Bloc)
 
 
Pensando bem, tudo o que vejo começa a fazer parte de um mundo bem peculiar para mim, no qual me deixo estar confortavelmente junto a essas manifestações sensoriais, seja noite ou seja dia.
 
São esses os instantes  que compõem as telas da minha vida. É por essa simples razão que se eu inventar de pintar uma flor solitária por entre os verdes, eu pinto, eu fotografo aquele momento único na memória e guardo em mim essa beleza leve ou apenas me encanto com aquela lindeza perdida no meio do mundo. Uma aquarela cheia de cores que fica retida em minha retina e que é minha, apenas minha, pois ninguém conseguiria enxergá-la como a vejo.
 
E é pensado assim, que essas imagens adquirem o dom de construir degraus com cada pedra que encontram no meu caminho. E é por isso que muitas vezes me sento absorta diante de uma tela em branco e respiro fundo, olhando para tudo através do seu próprio brilho, como se isso representasse os sinais de vida que só eu soubesse beber e degustar naquele momento. Porque essas imagens não são apenas retratos fixos de uma impressão minha. São impressões, sim, que se aglomeram na alma e que passam  a se incorporar na minha vida.
 
Tem dias que me acordo como o Sol e saio irradiando raiozinhos de luz por aí, eu e minhas telas. Em dias de chuva, no entanto,  prefiro ficar em casa bem quieta com as imagens do meu "planeta" particular.  Enrolo-me em minhas sedas, leio e pinto novas cores até dar a hora certa de me ensolarar outra vez.
 
Mas quando é noite, minha tela adquire nova vida. Olho pra cima e vejo aquela Lua imensa no céu. Sinto um pouco de inveja ao vê-la tão cheia e luminosa, e eu aqui embaixo tão vazia e sem luz... Então fico ali imóvel a olhar o céu e me banho da lua até ficar enluarada... Agora, só agora, vou poder brilhar com a lua, pois  ainda sou uma menina de sorriso escancarado e de olhos de ver nuvens.