Do Que Gosta a Arte?

Certa vez li algo sobre a arte não gostar dos covardes. Não sei quem escreveu. Pouco me importo. Mas queria dizer que discordo. É uma frase bonita, forte, de efeito, com certeza. Mas pensemos um pouco só: porque devemos sempre nos apegar a ideia que somente o exuberante, o corajoso, o majestoso da vida tem valor? E os pequenos, os pontinhos de costura que formam o vestido glorioso? Sabe, por mais que não os notemos, sem um só deles, tudo seria desfeito. Na vida, meu caro, é a mesma coisa. E o que é a arte? É o belo, certo? Aquilo que encanta os olhos, expressa, arranca algo de nós. Mas não sejamos tolos de pensar o belo é sempre grandioso. Ou mesmo corajoso. Vai, pensa num covarde. Num alguém preso numa jaula, sem voz, que só age na surdida. Não lhe parece muito notório, com certeza. Mas a coragem, pelo assim gosto de pensar, reside nos menores movimentos, nas palavras que soam baixo, que ninguém ouve. A arte, ou seja, o sentimento, a expressão, é algo que inunda as mentes assustadas que vivem por aí. Na sua quietude, são ditas as coisas mais loucas, mais impensáveis. Talvez nós vemos o conceito de coragem de uma maneira totalmente errônea. Talvez a covardia viva mesmo é no exibicionismo, nos sedentos pela atenção desnecessária, do ego que precisa ser inflado. Talvez, ouso dizer, a bravura esteja é no pequeno passo que alguém dá fora de seu casulo, sua toca escondida. Lá é que devem viver os maiores artistas, os maiores silêncios preenchidos pelo que é verdadeiramente belo, que reluz por si só.

Letícia Castor
Enviado por Letícia Castor em 30/07/2013
Reeditado em 30/07/2013
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