Crônica XXIV - Nimrod

Ana Esther

Nimrod... o tataraneto do Noé, o guerreiro e rei da Babilônia??? Nada disso, para a Mochileira Tupiniquim trata-se do nome do camelo com o qual ela fez uma ‘camelgada’ (é preciso um neologismo pois não é exatamente uma cavalgada, não é!). Em inglês foi uma camel ride! Voltando no tempo dá para entender melhor...

A Mochileira Tupiniquim encontrava-se no meio de sua longa viagem pela Austrália a bordo do ônibus da Oz Experience e nesse dia 23 de agosto de 1999, em plena segunda-feira, ela e o grupo de mochileiros (backpackers) do mundo inteiro saíram deNoosa, uma praia belíssima no Estado de Queensland, rumo a outra praia encantadora a 40 Miles Beach onde os aguardava uma aventura natureba! Natureba no sentido de contato com a natureza, sacou? Traduzindo, andar a camelo... camelo um bicho super gente fina... e natural???!!! Pois é, nunca a Mochileira havia sequer imaginado que viajando pela Austrália ela faria um típico Camel Safari. Logicamente que ela nem desconfiava que naquela época (hoje ela não sabe como anda a coisa) a Austrália era a maior exportadora de camelos no mundo.

Quando o grupo da Mochileira chegou ao estabelecimento de aluguel dos camelídeos, um camelo foi alocado para cada um ou dois dos mochileiros ansiosospor aquela aventuracamelística. Fizeram com que os camelos se sentassem afim de que o pessoal pudesse montar e se acomodar na sela. Colocaram uma focinheira nos camelos para que eles não cuspissem nos turistas e também para que não se distraíssem no caminho até a praia, cheio de guloseimas tipo flores, eucaliptos... Uma vez bem instalada em seu camelo Nimrod, a Mochileira Tupiniquim se apaixonou por ele. Tão rebelde era o Nimrod que não conseguiram colocar a focinheira no danadinho. E lá se tocou a caravana insólita, com cavaleiros (cameleiros?) urbanos desengonçadamente montados em seus camelos, em fila indiana através do caminho que levava até a beira da praia de 40 Miles Beach.

O Nimrod, que não era bobo, aproveitou para abocanhar folhas suculentas ao longo do trajeto, ia mastigando o tempo todo, volta e meia ele cuspia um jato de... bem, de cuspe, né! E assim o grupo chegou à praia de areias finas brancas e quase que selvagem pois não havia nenhum banhista sequer, somente os membros do Camel Safari! Paraíso. Foi um passeio de umas duas horas, com direito a parada para esticar as pernas, tirar fotografias, comer e beber água, dar água para os camelos... E a Mochileira não cansava de alisar o pelo do Nimrod, sempre tomando cuidado para ele não cuspir nela inadvertidamente!

A Mochileira tem consciência de que os animais na maioria das vezes sofrem nas mãos de pessoas inescrupulosas e gananciosas e que este tipo de negócio pode causar muito sofrimento para os bichos indefesos... Mas ao mesmo tempo como uma experiência dessas aproxima o bicho humano do bicho não-humano, o carinho e a ternura que ela sentiu pelo Nimrod estão vivos até hoje.