O AMOR SEM FÓRMULAS

“A vida é bela quando nela existe o amor”. Ouvi alguém falando em uma emissora local num tom de voz aveludado e, imediatamente, eu comecei a divagar entre a fantasia e a realidade da palavra chamada amor. Será que o amor tão desejado é aquele vindo dos poetas, normalmente romântico e muitas vezes, platônico? Esse amor, sim, é celebrado e coroado pelos belos versos - em sua forma mais pura - mais completa, e é idealizado no campo da imaginação de quem vive sonhando com a perfeição de sua musa.

Não. Acho que o amor é mais que “seja eterno enquanto dure”, dito por outro, por sinal, apelidado de “poetinha” (acho que poeta é poeta, sem diminutivo), exaltando a sua musa de momento e, sempre, com a famosa frase: que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental. O que me faz devanear mais uma vez: feias não podem amar? Nesse caso, amor é padronizado e seleciona aqueles que terão direito a ele?

Também acho que não. E quando ocorre o trágico no amor, é amor mesmo? Já ouvi muitos dizendo que mataram por amor. Será?

O ato possessivo em nome do amor é um sentimento desprezível, incoerente, que maquia - não a essência do amor - mas, o que muitas vezes é mais forte no relacionamento: o ciúme e a desconfiança. O que leva a mais uma questão: existem várias formas de amar? Não sei.

Mas já observei que ele atravessa várias etapas para a sua consolidação sublime. Ou, não será a paixão e o gostar, um caminho para se chegar ao amor? Acredito que sim. Já vi paixões avassaladoras terminarem sem conseguirem cruzarem a linha do realmente “está gostando”. Mas, já vi também, a paixão ser transformada no gostar e ir aos poucos, construindo o alicerce para se edificar o amor.

Difícil, mas se chega.

E, como dizem os cientistas, a química tem que acontecer para que haja o amor. É correto isso? Nesse caso teria que haver uma combinação perfeita entre dois seres que, comprovadamente, não existe. Alguns conceitos não me atraem. Outros preferem conceituar o amor como uma renúncia em prol do amado, na certeza que sendo assim, o terá para sempre. Não acho certo. Cada um tem sua parcela na renúncia, não um somente.

E os que sufocam em nome do amor, exigindo cada vez mais, daquele que escolheram para amar? Será uma forma de amor ou apenas uma maneira de se apropriar de algo que, em suas mentes criativas, não conseguem enxergar o ponto de equilíbrio para um amor pleno, verdadeiro e definitivo? Sei lá! Na verdade, o pouco que sei é que, para se ter o amor em todo o seu esplendor, deve saber querê-lo, aceitá-lo, compreendê-lo, sem amordaçá-lo em normas, exigências e, muito menos, em dominação ou posse.

Não existem regras para o amor e ele não é construído de detalhes pré-estabelecidos, nem de padrões sociais; o amor não necessita de se atrelar a ele, por exemplo, qualquer tipo de receita. Não existe. O amor simplesmente acontece, entra sem ser convidado, cria raízes e perpetua-se quando se funde em um corpo somente, não precisando mais de duas almas. Nele, a renúncia dá lugar ao prazer; os defeitos, as qualidades; o ciúme, a confiança; a posse, a liberdade. O amor é pleno, sublime e está acima de qualquer sentimento. Alcançá-lo é uma tarefa árdua, porém prazerosa quando se atinge. A pureza do amor reflete a felicidade de quem o tem. Dividir o amor é proporcionar o exato equilíbrio de um relacionamento eterno. Não é preciso dar sem receber, senão não é amor. É apenas uma vontade de querer consegui-lo. Não conseguirá. Amor é troca, é cumplicidade, é partilha, é companheirismo e é união.

O amor é o bem maior, traduzido na esperança, no carinho, na humildade e na sabedoria dos ensinamentos do Pai e, na bondade da mãe que afaga e acalenta sua cria. Amor não morre, nem acaba. Nem mesmo antes de conhecê-lo. Ele permanece imaculado em toda sua trajetória e não abandona a quem dele se utiliza.

“Tenha sua alma limpa para amar. E que esse amor seja capaz de ultrapassar a inveja, o ciúme, a maldade e saiba cicatrizar, antes do tempo, as feridas provocadas pelos sentimentos ruins, com o melhor remédio que se pode dar ao amor: a pureza do espírito”. (Raí).

 

Obs. Imagem da internet
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 08/04/2007
Reeditado em 07/04/2012
Código do texto: T441547
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.