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Existe um “eu” que não dorme n’alguma parte. E hoje sei, mais do que nunca, onde ele está, onde é o tal universo paralelo que sempre desconfiou - se haver. A mim, existe um “eu” idêntico, trafegando livremente em outra dimensão. Ele tem amigos, família e pode escolher o que os outros podem ver da sua vida. Esse “eu” não cansa. A qualquer momento, por qualquer pessoa é evocado e, solicitamente responde, este “eu” parado.

Navego por este “eu” carente que, pertinente, me sorri uma, três, sete vezes ao dia. Tenho medo deste “eu”, de deixar que ele dite quem sou, de que ele venha a ser o real. Chego a ter ciúme quando penso na sua vida marcada só pelo bom gosto, fatos bons. Entidade bem-amada.

Sim, agora convivo com a certeza de que existo em outra dimensão que disputa comigo o posto de ente principal. Criatura que ameaça o criador.

“Eu” real posso eliminá-lo, mas não o faço. Em contrapartida, “eu”, o virtual, pode obliterar-me e não hesita em fazê-lo. Divindade forte a dele! Quanto mais me rouba a alma, quanto mais me suga o tempo, mais dou lugar à sua existência – até mesmo em detrimento da minha!

E, na era do “Parecer ser”, onde as aparências contam mais do que a realidade, não me surpreende que o porvir nos tenha revelado o mapa do universo paralelo, no qual o verdadeiro “ser” se transforma em fonte esgotável – e não sustentável – de energia do “eu” paralelo. O mingau que alimenta um avatar. E ali ficamos estáticos, frente ao monitor – portal, na expectativa de que algo aconteça, nossa vida se resolva e a carência se dissipe taimelainearmente. Enquanto isso, no mundo real, o tempo passa sem avisar...

Juliana Santiago
Enviado por Juliana Santiago em 02/08/2013
Código do texto: T4416593
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