COLEGA DE TRABALHO – XI – continuação...

 
                              Mais uma segunda-feira. Fui um dos primeiro a chegar. Não tiro os olhos da porta. E vou continuar olhando quando ela entrar... Meu coração acelera e tenta subir para garganta, mas não desvio o olhar da luz que me atordoa. Se ela visse o mundo através de meus olhos iria parar rente a minha mesa; não viu o mundo e não parou rente a mesa, mas olhou-me e esboçou o bom-dia quase sem som, respondi com um sorriso pedinte e, a seguir, transformado em carnal. Não correspondeu nem a um e nem ao outro, mas agitou-se mexendo nos cabelos. Vou encará-la sempre. Não tenho nada a temer, a rigor sou o único homem por aqui; pode ser um anjo, mas está voando na minha área; ainda vou deixá-la sem asas no meu pequeno refúgio.
                                      O dia derreteu-se como gelo ao sol e todos estão se ajeitando para sair. Quero e vou ficar bem perto dela.
O perfume sorri para mim.
— Olá — Disse eu, articulando melhor.
— Oi.
— Está gostando do trabalho? — não recorri à meteorologia.
— Estou.
— Mora longe? — perguntei ao lado e virando-se para ela.
— Não. Moro perto.
— Dá para ir a pé?
— Sim!
                    Ela não é tão deusa como imaginei, mas conseguiu travar a minha língua e fiquei sem assunto.
— Até amanhã. — Disse ela, descartando-me no vaivém da rua.
                    Consegui sair da toca, da prisão interna. Amanhã haverá mais intimidade, preciso conhecê-la, não dá mais para continuar apenas sonhando com um anjo distante, quero ser salvo...
Silva Lemos
Enviado por Silva Lemos em 07/08/2013
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