* Anita tentava consertar o chuveiro elétrico.

** Mãe de cinco filhos, Anita acabara de retomar os estudos que um dia interrompeu somente porque os pais dela decidiram assim.
 
Anita sempre amou estudar.
A irmã, ao contrário, não mostrava o mesmo entusiasmo quando era obrigada, ao lado de Anita, a freqüentar a escola.
Após superar a primeira etapa, prosseguir os estudos exigia mudar de ambiente, ou seja, morar na capital.
Os pais de Anita estabeleceram que as duas só continuariam estudando unidas. Eles não admitiam a separação das irmãs.
 
Anita “pagou o pato”, sendo forçada a conter o anseio de estudar.
 
Depois de casada, ela acompanhou o marido rumo à capital, Salvador, ou melhor, Bahia, conforme as pessoas do Interior falam.
 
“Eu fui pegar uma encomenda na Bahia”
(Na verdade a pessoa foi a Salvador, a capital da Bahia).
 
Anita e Tonho (Antônio) resolveram ir morar na “Bahia”.
 
** Anita jamais permitiu que suas aspirações desaparecessem.
Mais tarde, sem ameaçar as obrigações maternas nem as tarefas do lar, ela conseguiu concluir o curso de Magistério.

Quis mais e somou uma especialização que lhe possibilitava lecionar “Português” para as quintas e sextas séries do ensino ginasial.
 
* Revelando esse contínuo espírito de aprendizado e dinamismo, Anita tentava consertar o chuveiro elétrico.
 
Infelizmente Anita não abraçou qualquer precaução.
Descalça, sem usar uma luva, esquecendo de desligar a chave geral da energia, seria impossível evitar um tremendo choque elétrico.
 
Tocando numa parte descoberta de um fio, sofreu aquele tipo de choque que faz o  indivíduo fechar a mão e ficar grudado.
 
Anita ficou presa.
Começando a sentir o corpo desfalecer, não havia condições de gritar.
Tudo ocorria muito rápido.
O entusiasmo e a disposição gradativamente sumiam.
Até a guerreira Anita era impotente encarando o perigo da situação.
 
Uma grande angústia visitou o coração de Anita.
“Será que ela morreria ali, daquela forma tão estúpida?”
 
Anita pensou em Deus.
Naquele instante, sem nenhum poder de reação, seu pensamento viajou buscando o único socorro capaz de impedir a tragédia anunciada.
 
Não havia opções humanas, ninguém apareceria.
Tonho estava trabalhando, os filhos estavam fora estudando.
 
Caso Deus não realizasse um milagre, seria o fim.
 
** Seu Pedro tinha saído cedo do trabalho meio indisposto.
 
Descendo a rua lentamente, algo começou a incomodá-lo.
Olhou para dentro de uma casa modesta, cinco números antes da sua, e observou uma espécie de tampa aberta na parede.
 
Seu Pedro não compreendia a razão, mas parou e ficou, durante alguns segundos, olhando a tampinha aberta.
Ele ousou abrir o portão da casa e adentrou desejando conferir a tampa.

Notando que ali estava exatamente a chave responsável pela energia da casa, guiado por um impulso estranho, ele moveu a chave para baixo.
Seu Pedro escutou algo parecendo um grito.
 
_Dona Anita! Dona Anita!
Ele insistiu:
_ Tem alguém em casa? Seu Antônio? Dona Anita?
 
Logo Anita surgiu com a expressão de palidez.
O vizinho explicou, quase gaguejando, a sua presença dentro da casa.
Disse que sentiu um desejo irresistível de desligar a chave da energia.
Pediu desculpa pela ação, porém Anita o interrompeu:
_ O senhor foi o anjo que escutou Deus soprar a idéia de entrar aqui e desligar a chave. Muito obrigada, Seu Pedro!
 
Quando Seu Pedro desligou a chave, Anita se soltou abruptamente.
Largando o fio, ela caiu um pouco afastada, batendo o ombro na parede do banheiro. O impacto fez Anita gritar, porém o enorme alívio superou bastante a pancada.
 
* Essa tão incrível história que Anita, minha adorável mãe, me contou algumas vezes, inspirou a minha crônica desse sábado.
 
Realmente minha mãe era uma mulher espetacular.
Além de ser linda, possuindo um rosto que provocou o suspiro de muitos rapazotes no passado, carregava belas qualidades e uma nobreza que encantava demais.
 
Anita seduziu completamente Tonho, o meu querido pai, que hoje, além da vida, está desfrutando a doce companhia dela.
 
Minha mãe era bondosa, corajosa e idealista.
Tamanha magnitude iluminava os passos dos amigos do planeta e estimulava a sublime simpatia dos Céus.
 
O Criador sempre lhe ofertou a mão.
Diversos anjos Ele enviou para socorrê-la nos momentos de aflição.
Não havia obstáculos nem limites! Deus a carregaria nos braços se o problema exigisse Sua intervenção direta.
 
** Anita era fantástica demais!
 
Ah! Que saudade!
Que vontade de descansar a cabeça nas suas pernas!
 
Que vontade de dizer Mâe, eu te amo!.
 
**
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 10/08/2013
Reeditado em 10/08/2013
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