Salão de beleza

Sábado tive meu dia de madame no salão de beleza. Também me dou a esses luxos de vez em quando. E além de sair linda saio também mais informada do que acontece na sociedade das damas. Enquanto uma tratava as mechas de meus cabelos, duas manicures cuidavam das minhas unhas, como se eu fosse uma rainha, apesar de me sentir como um frango assando na máquina, pés e mãos estirados e os cabelos semelhantes aos de quem recebeu uma descarga elétrica. Ainda bem que o resultado compensaria. O mais interessante eram as conversas dos lados. Fiquei sabendo que a coitada da Scheila foi traída pelo marido e por isso não aguentou ficar na Fazenda (como eu não sabia disso antes? onde eu estava quando isso aconteceu?). Também fiquei sabendo que uma senhora, coitada, a história dela quase me fez chorar, teve que voltar a trabalhar, pois a mísera pensão que seu ex-marido lhe deixara não lhe permitia mais fazer viagens a São Paulo para fazer compras ou ver um show de jazz. Vingança de ex mal resolvido. Em outro canto do salão, uma mini mulher, de seus quatro ou cinco anos, teimava com a mãe, pois esta queria que ela usasse esmalte clarinho, mas ela insistia em vermelho. Mulher de atitude é assim. E ainda tem a história da escritora que estava prestes a publicar um de seus vários livros, todos com a temática de mulheres sofridas, ela mesma testemunho vivo de sofrimento. Agora me pergunto: será que alguém ali naquele suntuoso salão de beleza se interessaria por histórias de mulheres sofridas? Sei não, acho que o livro vai encalhar nas livrarias. Um fato curioso: enquanto todas essas histórias atravessavam de canto a canto o salão, uma das meninas que ali trabalhava para nos deixar lindas e maravilhosas sonhava com o azulejo novo que ia ser colocado no banheiro no domingo, dia em que o pai tinha para descanso. Outra estava feliz porque a dona da casa que alugavam resolveu levantar o muro da frente e descontaria aos poucos no aluguel, pelo menos dificultaria o trabalho dos ladrões. E uma terceira suspirava pela chegada do décimo terceiro, assim poderia trocar a geladeira e o fogão que já tinham o prazo de validade expirado há anos. Enfim, fiquei pronta: cabelos mechados, cortados, escovados, unhas pintadas e uma certeza na cabeça: o salão de beleza é um local tão democrático, tão enriquecedor, que todos deveriam frequentá-lo de vez em quando. E descobri também que pessoas de universos tão diferentes conseguem conviver harmonicamente como se fossem iguais. Pelo menos ali dentro.

Ftima
Enviado por Ftima em 20/08/2013
Reeditado em 17/09/2014
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