Testemunho de um nordestino

Espero que minhas já calejadas mãos e que este meu coração tão cansado de bater (e também de apanhar) possam expressar tudo o que sinto e tenho para dizer. Pouco me importa ser chamado de “matuto” ou “caipira” por pessoas que não sabem da minha história, da minha vida. Pouco me importa que o Sol já tenha queimado minha pele, este é o sinal do meu trabalho, é o que eu faço para viver. Pouco me importa de já ter rugas, elas mostram que a maturidade chegou primeiro que a idade. Pouco me importa se a minha baixa escolaridade te incomoda, eu não tive a oportunidade de levantar um lápis, era muito ‘pesado’ na época. O que deveria te incomodar era essas pessoas que se dizem desenvolvidas, mas jogam alimentos no lixo ao invés de dar para alguém, o que devia te incomodar era esse povo tão ‘desenvolvido’ em tantas coisas, mas que esqueceram seriamente de desenvolver caráter. Minha baixa escolaridade não é nada se comparada com a falta de educação que a maioria das pessoas têm, antes que toda essa falta de educação fosse apenas em ler e escrever e que não partisse para o lado de destratar um ser humano igual a si mesmo por arrogância, se achar superior – esquecendo, assim, que isso só torna a pessoa ainda mais inferior.

Minha maior escola foi minha vida, nela eu aprendi a amar verdadeiramente tudo o que tenho, mesmo sendo quase nada, e a sentir orgulho pelo que conquistei com meu esforço. Aprendi a respeitar cada criatura do jeito que é, e gostar delas mesmo que sejam completamente diferentes de mim. Aprendi que o respeito e o caráter são as maiores qualidades de um ser humano. O maior (e melhor) diploma que recebi era quando meus pais sentiam orgulho de algo que eu fazia certo, nem todo o dinheiro do mundo poderiam comprar aqueles olhos marejados de minha mãe ao perceber que herdei seu respeito por tudo, e a alegria na voz de meu pai por saber que tinha me formado como gente que se deve respeitar. Diplomas te acompanham por toda a vida, pessoas de outros estados ou países podem criticar a fole, mas essas críticas nunca entrarão em meu coração blindado para essas coisas.

Aninha Torres
Enviado por Aninha Torres em 27/08/2013
Reeditado em 11/08/2014
Código do texto: T4454756
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