Médicos cubanos.

A atual polêmica em razão da vinda dos médicos cubanos ao Brasil está revelando a população brasileira a triste realidade em que se encontra a área da saúde. Através da polêmica pode-se perceber que o problema não é só quanto à atuação do estado, mas também em relação aos profissionais de saúde. O corporativismo dos médicos e suas atitudes contra a vinda dos médicos cubanos acabam revelando quem são os profissionais médicos do Brasil e quais suas intenções em relação à saúde da população.

Os médicos brasileiros não querem ir ao interior do país para atender as populações carentes destes locais, e o mais grave é que não querem que ninguém vá, ou seja, segundo a visão dos médicos brasileiros os interioranos das regiões mais pobres e remotas devem morrer a míngua. Esta atitude revela um coração maldoso, mórbido, o que é incompatível com o que se espera do coração de um médico, porque os médicos ao se formarem fazem um juramento para salvar vidas e não defender posições que venham a ceifar vidas. Abaixo coloco o juramento de Hipócrates atualizado na versão brasileira.

“Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário.”

É óbvio que a minha fala não se estende a todos os profissionais médicos brasileiros porque há muita gente séria e vocacionada salvando vidas diariamente. Entretanto, há parcela dos médicos brasileiros que não fazem jus ao juramento acima citado, antes, parece que eles fazem um juramento de hipócritas e não o juramento de Hipócrates. Existe uma parcela que está interessada em tratar a saúde como mercadoria, ou seja, quer ganhar dinheiro com a saúde do povo, e aí se incluem médicos, hospitais, planos de saúde, farmácias e a poderosa indústria farmacêutica e de máquinas hospitalares, cujo único objetivo é ganhar dinheiro.

Para a população do interior não importa a nacionalidade do médico, ou seja, não faz diferença se é cubano, brasileiro, argentino ou espanhol. O que importa é ter um médico para atendê-lo na hora que precisar. A argumentação contrária à vinda dos médicos cubanos não se sustenta porque 90% do currículo cubano é igual ao currículo brasileiro, residindo à diferença de 10% no fato que a medicina brasileira tem um enfoque curativo e a medicina cubana tem um enfoque preventivo. Os demais argumentos nem comentarei porque não se sustentam, antes, revelam uma posição corporativa somente preocupada em manter o seu feudo intacto.

Mesmos nos grandes centros faltam médicos nos postos de saúde, principalmente nos finais de semanas e feriados. Aqui se faz necessário dizer que não tem médicos presentes, mas tem médicos escalados e com os cartões pontos devidamente batidos por algum colega. Aliás, quanto a este assunto tem na internet matéria da Record mostrando uma médica batendo o ponto de seus colegas com dedos de silicone, é mole. Também não é difícil achar a matéria do SBT em que os médicos vão ao hospital público, batem o ponto e saem para dar expediente em hospitais particulares. Se este comportamento não é regra, está longe de ser uma exceção.

E há casos mais graves como o da médica aqui de Curitiba que está respondendo processo porque é acusada de desligar os aparelhos da UTI do hospital em que trabalhava quando os doentes eram atendidos pelo SUS. Segundo a denúncia ela desligava os aparelhos para abrir leitos na UTI para pacientes que pagassem em dinheiro.

A corporação médica tem apoio de certos órgãos da imprensa. Cito a revista Veja que tem se mostrado contra a importação dos médicos cubanos, entretanto, em 1999 quando FHC importou médicos vindos de Cuba para trabalhar no interior do Tocantins, a revista elogiou a atitude dizendo “o milagre veio de Cuba”. Se o leitor quiser confirmar a informação é só consultar a edição 1620 de 20.10.1999.

A exposição acima nos leva a concluir que para melhorar a saúde no Brasil não basta somente uma presença maior do estado brasileiro, mas será preciso combater interesses e organizações poderosas que somente estão interessados em ganhar dinheiro. Caro leitor, o que vimos até agora é somente a ponta de um iceberg.

Para finalizar quero dizer que há médicos brasileiros excelentes e comprometidos com a saúde e cito para exemplificar a grande Zilda Arns que morreu no exercício da profissão.

paulo de jesus
Enviado por paulo de jesus em 28/08/2013
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