Consultório - não precisa ser de psicólogo - é o lugar ideal para se ouvir histórias. Enquanto eu esperava para fazer fisioterapia no joelho, ouvia a paciente da cabine ao lado conversando com a terapeuta.
- Eu, minha filha, estou bem agora, mas já passei cada uma nessa vida! Imagina você que telefonava lá pra casa uma moça e dizia que era a secretária do Coronel Sergio. Eu dava o recado para o meu marido. A tal secretária do coronel usava esse subterfúgio para se comunicar com o meu marido. Eu, idiota, dava o recado. Ele saía e dizia que ia encontrar com o Coronel. Só que o Coronel usava saia e sapatos altos. Mas eu não me importo. Só lamento não ter me separado do meu marido há mais tempo. Eu já não agüentava nem a voz dele. E olha que eu me casei apaixonada. Mas paixão, como, aliás, tudo nessa vida, também acaba. O pior é que a gente fica um bocado de tempo pra entender isso. Talvez a gente até entenda, mas não tem coragem. Ficamos dando desculpas para nós mesmas. Às vezes é necessário que haja uma traição para termos coragem de tomar a decisão. Mas uma vez tomada, não pode haver recaída porque é a mesma coisa que querer aproveitar um bolo que solou ou, pior ainda, um bolo que se desmantelou quando desenformado. É melhor jogá-lo fora e fazer outro. Eu sou independente, pago as minhas contas, chego em casa na hora que bem entendo, não tenho que dar satisfação a ninguém, não tenho que me preocupar se a empregada veio ou não, se tem ou não jantar para o “todo poderoso” marido. Enfim, estou livre como um pássaro. Namoro na hora que estou a fim, sem compromisso, exatamente como os homens fazem. Eu resolvi bem o meu caso. Pior é a minha cunhada – agora passava a falar da vida da cunhada - que descobriu que a mulher do irmão dela estava dando em cima do marido dela. Quer maior pouca vergonha? Os homens resolvem o casamento morno arranjando uma amante e continuam vivendo aquela vidinha monótona, mas da qual eles têm um medo terrível de sair. Acham que a esposa é quem vai cuidar deles se ficarem doentes. Hoje em dia são as mulheres que tomam a decisão. O homem fica arranjando um motivo para elas pedirem a separação. Eu aconselho a todas as mulheres que trabalhem, sejam auto-suficientes para só ficarem com um cara se estiverem a fim de ficar e não por necessidade. Se você ganha o seu sustento não tem que ficar aturando cara feia, desânimo, mau-humor, ronco, arrotos, gases e outras indelicadezas. O problema maior é que os pobres homens não tiveram tempo ainda de se adaptarem à nova mulher e ficam com medo das que são independentes e descoladas. Se você sair com um homem mais jovem pode dividir a conta, mas se ele tiver mais de 55 anos, não faça isso, pois vai deixá-lo constrangido.

 
A terapeuta só ouvia, não dava opinião. Quando a paciente parou de falar, ela fez o seu comentário: eu já cheguei à conclusão de que ter um só homem não é suficiente. Um é inteligente, mas é ruim de cama. O outro é ótimo de cama, mas é a ignorância personificada. O outro é bonito, com boa situação financeira, mas não sabe como manusear o meu corpinho. O último que conheci era bonito, rico, elegante, delicado, atencioso, inteligente e gay. Quando a gente acha um no qual valha a pena investir, pode estar certa de que ele é casado. Tenho uma amiga que está apaixonada por um cara e ele por ela. O único problema é que ele é casado e ainda tem a mãe dele que mora com ele. Já imaginou o cara sair de casa e deixar a mãe como lembrança para a ex-esposa? É castigo demais, não é não?
Fiquei curiosa para saber o que aconteceu com a cunhada e também como estava o ex-marido da paciente, mas o meu atendimento acabou e tive que ir embora. Espero encontrá-la na próxima sessão, talvez contando de um novo namorado ou da vida de alguma vizinha. Isso faz com que o tempo de tratamento passe mais rápido.
edina bravo
Enviado por edina bravo em 30/08/2013
Reeditado em 04/02/2014
Código do texto: T4458751
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