O sabor de Damasco

Provei um pedaço de damasco e o seu gosto penetrou em minhas entranhas. No entanto, a minha rejeição digestiva não foi maior do que ver as recentes imagens, do último ataque ocorrido contra civis, na periferia da capital da Síria. Ainda não se sabe quem foram os responsáveis pelo episódio – o governo sírio ou os rebeldes.

Com suspeitas de um bombardeio de armas químicas, em especial sarin – gás extremamente venenoso cuja sua atuação é no sistema neurológico. O povo sírio mais uma vez virou alvo das consequentes mazelas de uma guerra civil, que já dura há dois anos. Não diferente das constantes cenas de violência que agridem veemente o país, este último ataque deixou centenas de mortos.

Entre ruínas de concretos e poeiras, as principais vítimas registradas foram crianças, idosos e mulheres. Todos com seus corpos enfileirados e enrolados em lençóis à espera do reconhecimento de algum familiar. O que se viu foi um verdadeiro cenário apocalíptico.

O fato é que a Síria vive subordinada ao governo ditatorial de Bashar Al Assad. Na qual, prevalecem a ausência de diálogo e a intolerância com a população. Além da falta de liberdade de imprensa e de direitos civis básicos aos cidadãos sírios.

A sociedade em geral fica na expectativa de que a ONU, a Comunidade Internacional e os Direitos Humanos estabeleçam alguma posição, em relação ao governo de Assad. Somente assim, as duas estrelas desenhadas na bandeira da Síria irão cintilar novamente.

Acontecimento como esse realizado no país, faz-nos refletir acerca do mundo, em que vivemos. A ganância, o poder centralizador, a escassez de compaixão, a negação do amor e o egoísmo imperante - são ingredientes impregnados nas veias das grandes potências e autoridades, que pouco se preocupam com a base pacífica de qualquer nação, o povo.

Encontrei um pedaço de Damasco e o engoli. Seu gosto era de suor e sangue. Nas minhas entranhas, um grito ecoava pedindo paz e liberdade.