Vermelho

Seus olhos estão inchados. Grossas lágrimas escorrem pelo seu rosto esquelético, sua visão está turva. As pernas se movimentam involuntariamente, ele está fraco. Não se alimenta á vários dias.

Passos apressados e silentes passam por ele, não parecem notá-lo. Máscaras inexpressivas se misturam em rostos incógnitos, desprovidos de cor, faltam-lhes o vermelho dos lábios. Estão todos fixados em si mesmos, nenhum olhar é dirigido em sua direção.

Um misto de tristeza e fome irrompe em um vazio dentro dele, seu corpo dá sinais de cansaço. O sol se põe aos poucos.

O banco da praça é o local escolhido para passar a noite. A praça é um refúgio para os desabrigados, vários deles estão espalhados sobre caixas de papelão e amontoados de jornais velhos. São pessoas como ele; que um dia já tiveram sonhos e hoje vivem a mercê da vida, esperando uma segunda chance.

A desigualdade pesa-lhe as costas. O cobertor surrado o protege do frio. Ele observa as estrelas... Lembra-se da família que ficou no interior, a saudade explode forte em seu peito, seus olhos marejam novamente; ele se sente impotente, incapaz.

Ele ainda sonha em reencontrá-la um dia. O coração ainda bate forte no peito, o vermelho ainda habita seus lábios. Se tiver sorte pode ser que acorde no dia seguinte. Ele luta para sobreviver, não quer acabar como indigente. Uma fagulha de esperança ainda brilha em seus olhos. O vermelho ainda colore sua face. Ele ainda não desistiu.