O GALANTEADOR.

PUTA QUE PARIU.

Gritou o delegado seccional quando viu Pedro entrando novamente na delegacia. O policial não podia acreditar, só naquela semana era a terceira vez que o jovem voltava a frequentar as dependências do terceiro distrito. Pedro tinha o corpo franzino, cabelo liso em desalinho vivia de biscates na rua. Hora limpando um carro, hora fazendo serviço de jardinagem. Não era mau caráter, mas tinha um péssimo defeito. Não podia ver um rabo de saia, que logo soltava um gracejo.

O delegado se aproximou olhar taciturno, porém um esboço de um sorriso nos lábios.

--- o que você aprontou desta vez, Pedro.

--- doutor, eu juro que não fiz nada, foi apenas um mal entendido.

--- sei... E este olho roxo, mas parece uma berinjela. - afirmou o policial sorrindo.

--- pois é doutor, foi o meliante, marido daquela belezura.

O delegado sorriu.

--- quer dizer que levou uns sopapos... Posso saber o motivo.

--- como eu disse doutor, foi um mal entendido. Ela vinha caminhando em minha direção, loira, altiva, saia curta, cabelos soltos ao vento, eu estava limpando o carro ali pertinho da Rua do Comércio, esquina com a Vidigal. - Pedro parou por alguns segundos.

--- sei e o que você disse para a belezura. - perguntou o delegado já rindo com o que poderia vir a seguir.

Pedro colocou a mão sobre o olho roxo e inchado, igualzinho o Barcos, aquele jogado argentino do Palmeiras, hoje no Grêmio e respondeu.

--- bem eu fiz um galanteio. - os dentes cariados de Pedro se mostraram se pudor.

--- entendi... O que você disse.

--- eu... Eu disse que se ela fosse um carro eu queria ser o volante, só para ficar o dia inteiro naquelas mãos de veludo. Não é legal doutor.

O delegado riu escancaradamente.

--- o que aconteceu depois.

--- esse é o problema doutor, eu não sabia que ela era casada, o marido veio logo atrás e me deu um sopapo que me jogou longe, dizendo, se você é o volante eu sou a buzina, me deixa tocar você para longe do meu veiculo sujeitinho impertinente. Doutor foi uma tapa só e este doeu. - Pedro sentou-se na cadeira de interrogatório, estava cabisbaixo.

O delegado sabia que ele não era mau sujeito. Perdera toda a família em um acidente automobilístico, tinha ficado um pouco pinéu, vivia na rua, dormia ao relento, não pedia esmolas, trabalhava fazendo pequenos serviços.

--- pois é Pedro, você precisa tomar jeito... Sei que não faz por mal, porém, as pessoas gostam de serem respeitadas, às vezes algumas mulheres até gostam de elogios, mas as tiradas que você dá são de doer. - o delegado riu.

--- doe não doutor... O que esta doendo é o meu olho, a buzina do meliante toca forte, por favor, doutor, me deixa ir embora, prometo que não vai acontecer mais, vou ficar de boca calada, mas sinceramente essas mulheres de hoje andam na rua para deixar a gente louco. - Pedro arregalou os olhos em direção à secretaria do delegado que acabava de entrar.

--- Virgem Maria... Abriram a porta do Céu. - disse ele, apontando para a morena que caminhava em passos compassados.

O delegado olhou na mesmo direção.

--- Cacete Pedro... Você não toma jeito mesmo, vá embora logo antes que eu te mande para os Quinto dos Infernos. Essa é a minha secretaria.

Pedro, mais que depressa saiu correndo, tropeçou no tapete, bateu o outro olho na quina da cadeira. Agora tinha os dois olhos roxos, mas estava livre para frequentar a rua.

PUTA QUE PARIU.