Aviso

Eu quero que você entenda e sinta uma coisa: não sou como essa mulheres acessíveis que você encontra por aí. Não pertenço à espécie das voláteis, que só querem o momento. O agora é pouco demais para mim. Me aguçam as reticências, a porta entreaberta.

Não sou daquelas que usam decota para impressionar, que vestem vermelho para colher olhares. Não sou dessas mulheres que você encontra nos balcões de bar por aí, que ao invés de ler os olhos, observa a carteira. Não, recuso-me a ser comum e tão deduzível assim. Gosto de ser surpresa, espanto e encanto.

Mas você tem todo o direito de querer o que se encaixa melhor, o que apela sempre por quinze minutos de você. Você, como todo homem, escolherá sempre o lado mais prático. E você está certo. Amor não é nada prático. Amor adora dar voltas e voltas, requer envolvimento, audácias momentâneas. Radicaliza tendências, conforta disparates. Defende sua tese. Cria dias dentro de uma rotina previsível. Apazigua partes dentro de um abraço. Desenha dias para sonhar.

Dá trabalho, não é? Despende muita energia, causa, provoca só com a lembrança. Eu sei que suas atitudes tem prazo de validade, suas vontades sofrem de fotofobia. Amor é luz, querido. É dedicação, disponibilidade, aceitação. Coisas que certamente você jamais encontrará numa mesa de bar.

Mas encontrará aqui, nessa mulher que sempre está enfurnada em livros, mas que sente, se apaixona e enlouquece como qualquer outra. Essa, que fala de Dickens com desenvoltura, que ama as obras de Piet, que admira Copolla, e que canta Vercilo em voz alta pela casa, mas que vive seus personagens e espera que outros venham escrever mais páginas da sua vida. Essa, que adora dedilhar a vida com palavras, que busca orientação em suas crenças, que respeita, é discreta ao falar e pensa mil vezes antes de cometer um suicídio verbal. Que adora encostar a alma na janela e ver a vida passar. Que ama ser descoberta a cada dia, com as mesmas paixões, desejos e loucuras de qualquer uma que enche a cara e fala abobrinhas. A diferença não está nos rótulos, querido. Está na essência.

Então, que a sorte seja lançada nos dados que você joga. Que a vida recompense e que você pense: não é o que pode ser pouco, mas o que parece muito, mas certamente é leve.