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MÚSICAS CHORADEIRAS
 
 
         Não existem as músicas ditas “de fossa”, “bregas”, que levam os indivíduos apaixonados aos píncaros das loucuras amorosas mais estapafúrdias? Existem, sim. Do tipo: “Esta noite eu queria que o mundo acabasse...”, “Tu és a criatura mais linda que os meus olhos já viram...” Ou ainda: “Eu hoje quebro essa mesa...” Assim, também, há músicas que nos fazem chorar, músicas choradeiras, mesmo sem paixões no meio do gramado.
 
          Vou, aqui, zoar em torno de destempero emocional causado por músicas. Destempero emocional? Aff... Coisa mais ridícula, se não for risível. É assim que concebo a minha inexplicável inquietude, quando ouço Luzes da ribalta, de Charles Chaplin. Aí já não presto, e a música vira clister de pimenta, coisa choradeira. 
 
          Não pensem que invento petas de cronista. Nada disso. A coisa acontece, de repente, com todas as letras, e sem que eu dê por mim. Só pode ser isso: destempero emocional causado pelos efeitos sonoros, ondas sub-reptícias que nem Freud explica. Fico convulsionado por dentro, água me borbulha pelos olhos, ao mais incipiente acorde da música do grande gênio do cinema.
 
          Que me lembre, agora, são pelo menos três outras canções que mexem comigo, me botam comovido, lá desde o dedão do pé até às pontas de rama dos cabelos. Ah... Ia cometendo injustiça. Há também aquela clássica, de Johan S. Bach, Jesus, alegria dos homens.
 
          Já bisbilhotei o assunto, alhures, não sei quando, mas volto à vaca-fria.  Aos grises ares da ditadura, não me controlava ao ouvir O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, em especial na retumbante voz de Elis Regina.
 
          Viche!... Eram como rios Nilo e Amazonas a se me desabotoarem da visão. Vinha-me, no ato, a lembrança do “irmão do Henfil” e, então, meus olhos já eram um pantanal. Ora, mas aí também já me batia outra recordação: Pra não dizer que não falei de flores, do Geraldo Vandré.
 
          Aquela cantiga, dita caipira, Romaria, do Renato Teixeira, eis outra canção que até hoje me arrasa. Como sou tiete da Elis, então mais voz de Elis.
 
          Agora, se querem mesmo saber qual a partitura que me inunda todo, abro o verbo, sim, e sem o menor constrangimento: Luzes da ribalta. Sei que não haverá psiquiatra nem psicólogo, o diacho a dez, ninguém neste mundo – por mais doutor que seja o gajo – para dar um laudo bem explicado e convincente do meu caso.
 
          O ‘clown’ que dormita em cada um de nós, quem sabe, em maior dose estaria manifestado em mim, denunciando-me a olhos vistos, tudo bem explicitamente? Talvez, e como vou lá saber, mas o diacho é quem duvida.
 
          Pois fosse eu mexer na gaveta da minha cabeça, hoje, certamente lá no meu mais recôndito e preferido repertório, daria de testa com muitas canções, ou partituras clássicas, que sempre mexeram comigo e aqui não foram citadas. Aliás, ainda mexem feito o coisa-ruim, atentando a um cristão.
 
          Mas o gênio do mal nem vai meter-se comigo, porque não o levo em conta. Agora, as músicas que aí foram referidas... A conclusão que tiro de tudo é que nasci piegas. Tenho miolo mole, sou lasso de natureza, sensível de gênio e ruim dos pés. Quiçá um lírico, um ‘clown’ não revelado, um romântico, e ainda sem classificação no breviário da psiquiatria das artes.
 
Fort., 08/09/2013.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 08/09/2013
Código do texto: T4472464
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