CRONICA DE UM FUNERAL

Crônica de um Funeral

Manhã, tempo nublado anunciando uma chuva e em uma casa sai um cortejo, existem lágrimas de desespero e também sorrisos, segue assim o funeral, uns saem na porta da casa tristes na última despedida, outros apenas olham e ignoram quem está de partida, outros fecham as portas de comércio em sinal de respeito, outros sentem apenas como um dia normal,um bêbado na porta de um bar ergue o copo e saúda, uma prostituta cochicha algo a outra, dizem juntas, coitado, um cachorro briga com outro,correm no meio do povo, alguns esquecem o respeito no momento e dizem palavrões, uma nuvem negra fecha o tempo e caminha junto. N a igreja o padre reza, uns acompanham com fé, benze o morto com água benta e voltam os lamentos e o choro recomeça, uns olham para a mulher ao lado provocante, outros olham a viúva se é linda, comentam sobre a herança deixada pelo falecido que lá está de mãos postas, fecham a tampa do caixão, o padre termina, batem os sinos e saem as igreja para seguir o cortejo da triste caminhada. Uns entregam a alça do caixão e comenta em sinal de troça, é pesado de tanto pecado, já inicia a caída dos primeiros pingos de chuva o que apressa os passos dos acompanhantes, uns já cansados vão se desculpando e ficando para trás, vai se tornando chuva e são poucos os que chegam ao campo santo, o cortejo para frente a uma sepultura recém aberta e neste momento abrem a tampa do caixão para a última despedida do falecido. Um meio alcoolizado tenta fazer um discurso, diz umas palavras desconexas tornando o momento final irritante, a chuva cai mais forte e ninguém mais quer ver a cara do falecido, fecha-se rapidamente a tampa do caixão para não mais se abrir, o coveiro calmo, quieto e abstrato ao seu serviço continua, joga as últimas pás de terra já em forma de barro, recolhe as ferramentas, olha ao lado tentando com palavras dar um conforto que não existe e vê que está só, todos se foram, apenas uma garoa fina, o coveiro comenta para si e em voz alta, descanse em paz, com uma mão faz um sinal da cruz meio ao contrário, dá as costas para outras ocupações, atrás, um Homem que apenas viveu nada mais, somente viveu.

Eu, passageiro no tempo no ano de 1994 - Gilvan.

Gilvan passageiro no tempo
Enviado por Gilvan passageiro no tempo em 13/09/2013
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