CARÊNCIA - O MAL DO SÉCULO

Diga-me um problema. Qualquer que seja. Se possível, diga-me o pior deles, o maior deles e te direi, assim, a incontestável solução: mais atenção (carinho).

Pois, não sendo a morte, meus amigos, tudo são relações. Familiares, amizades, trabalhos, pactos, contratos.

Falar é relacionar palavras. Entender implica relacionar ideias. E quase tudo desemboca em relações metafóricas.

Enganam-se os que dizem ser a depressão o mal do século. Não o é. Na depressão não há sinapses, não há estímulos ou sequer vontade que percorra todo o corpo, saindo do cérebro, num querer fulminante.

Na carência não! Nela ainda há a vontade de mudar, o feixe de luz artificial ansioso para projetar-se numa tábula branca. Há o impulso de querer compreender algo para, daí, adaptar-se ou rejeitá-lo – que seja! Existe ainda a gana de ser compreendido nem que, para isso, seja necessário amadurecer (este processo ingrato) para fazer-se entender.

A carência – ausência proativa – no primeiro indício de falta, faz existir algo: quer seja a cura, quer seja o ranço.

A carência, meus amigos, é particularmente lúcida. As redes sociais, por exemplo, nada mais são que plataformas de carências compartilhadas e semelhantes que se encontram no intento de acarinhar uma situação em comum. As manifestações populares, as comunidades virtuais, os fóruns, as empresas, o pobre que estuda, o imigrante em São Paulo: todos produtos do excesso de ausência de atenção, de assistência.

Um mal vigoroso e com boa autoestima: se revela facilmente e caminha visível por entre nós. Conta-se que quanto mais abertura para o outro, menos prejuízos causa em nós, e quanto melhor se corteja (a carência), mais ela se torna o “bem do século”.

Diga-me, agora uma solução. Qualquer que seja. Se possível, diga-me a melhor delas, e te direi o que incontestavelmente a motivou...

Juliana Santiago
Enviado por Juliana Santiago em 14/09/2013
Código do texto: T4481733
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