Subvertido 7 de setembro.

Palmas, Tocantins, primeiro dia da quente primavera do ano de 2013.

“Do you remember” no Media Player, não poderia ser mais pertinente no estado nostálgico em que me encontro hoje.

Prova de Sucessões amanhã, mas desde o dia 7 de setembro não consigo pensar em outra coisa...

“Era aniversária de Bela, uma das maiores amigas de Jurema que não estava interessada em festa aquela sexta feira a noite, logo cedo havia se desentendido com um futuro, talvez, quem sabe, pretendente, alguém por quem ela tinha um grande carinho enfim, palavras espinhosas foram proferidas por ambas as partes e todos saíram feridos.

Mais uma vez ratificava-se o fracasso que era a sua vida amorosa, nunca teve sorte, nem uma história bonita para contar, todos os seus relacionamentos se desencaminhavam e ultimamente, antes mesmo de começar, já estavam desgastados pelas brigas e desentendimentos, como num casamento de muitos anos.

“Amiga, estou na porta!”

Quando recebeu o SMS estava enrolada numa toalha sentada sobre a tampa do vaso sanitário do banheiro, o rosto inchado a denunciaria no primeiro segundo, não poderia sair assim. Engoliu o choro, jogou uma água no rosto e foi até o portão falar com Bela que a esperava.

No caminho um único pensamento povoava sua mente:

“Não vou chorar, vou dizer que vou me arrumar e em cinco minutos estarei na festa”

A chave girou “Droga!” não conseguiu engolir, nem se segurar, ou lançar um falso sorriso, deu de presente de aniversário um abraço cheio de mágoas e tristeza a uma de suas maiores amigas, as lágrimas pareciam brotar de seus olhos, não houve nada que a fizesse parar, os soluços eram incontroláveis, só conseguiu pedir desculpas, nada mais.

Passado o vexame, recompôs-se e mais uma vez pediu desculpas, disse que só sairia aquela noite por ser uma ocasião especial. Por não querer estragar ainda mais o momento, não contou a Bela o motivo do choro. Trocadas mais algumas palavras, Jurema deu de ombros entrou novamente em casa e foi arrumar-se, Bela a pegaria em 40minutos.

Tudo lhe servia, mas nada lhe caia bem, olhou-se no espelho:

“Nem toda a maquiagem do mundo vai esconder esses olhos inchados.”

Lagrimou.

“Droga! Não posso voltar a chorar!”

Foi do jeito menos ruim: um vestido, anabela e maquiagem leve, não ficou de todo mau o resultado final.

Iam a um bar de rock da cidade, galera alternativa, som alto, lugar bacana para esquecer, por alguns instantes, o evento mais cedo ocorrido. Jurema encontrou os amigos, todos ali pareciam saber que ela estava passando por problemas, mas não se importou, gostou de saber que era querida e de ouvir palavras de apoio.

Não circulou muito, pelo local, havia muita gente, uma banda tocava no palco, era dia de “Retrô” então a galera não hesitou em mexer bastante o esqueleto, logo Jurema que gostava tanto de dançar... Não estava na “vibe”, mas esforçou-se para não ser inconveniente nem estragar festa de ninguém. Sorrisos, abraços, alguns passinhos ensaiados, tentou ser legal.

Lá pelas 3 horas da manhã, eis que passeando o olhar pelo salão Jurema avista Don...

“É pra acabar essa merda de noite mesmo, era só o que me faltava.”

Baixou logo a cabeça, não queria que a visse, mas a verdade é que teve medo de vê-lo com outra moça.

Tomou coragem e disfarçadamente olhou em volta dele, procurando alguém.

“Graças a Deus, não está com ninguém.”

Dançava maio desengonçado com aquela velha barba por fazer, Don era mais um de seus fracassos, o mais interessante deles e o que menos combinaria com ela. Ateu e extremamente machista... Sem sombra de dúvida, o homem mais curioso com o qual ela havia se envolvido.

“Essa camisa ele usou na segunda vez que ficamos.”

Ficou impressionada com essa memória, nunca foi detalhista de mais, cheiros a marcavam mais que o modo com que as pessoas estivessem vestidas em algum momento especial.

Ele a viu, não trocaram olhares, ela, covarde, não teve coragem de encará-lo, sentia-se feia aquela noite, logo aquela noite em que ela havia chorado e seu rosto estava inchado. Como sabia que ele a viu?

Ele agiu da mesma maneira que agia todas as vezes que a via em locais públicos, não a cumprimentava, mas fazia questão de nem disfarçar que falava dela para os amigos.

Coincidentemente, na ultima semana, todos os dias Jurema havia sonhado com Don, ele ainda mexia com ela, mas não era a primeira vez que ele a via e fingia não enxergá-la, tinha vontade de ir lá e tirar satisfações.

“Tudo bem que não terminamos bem, que surtei com você, mas por que sempre finge não me ver, porque nunca me cumprimenta nos locais, ou melhor, antes não o fizesse por qual motivo você insiste em falar de mim para os seus amigos, sem nem disfarçar.”

Ensaiava mentalmente o discurso nunca dito enquanto olhava para o rapaz que estava conversando com Don e não parava de olhar para ela.

“Talvez seja coisa da minha cabeça, ele não está comentando nada a meu respeito.”

- Aquele momento constrangedor em que você percebe que as pessoas estão falando de você e nem fazem questão de disfarçar.

Falou em voz alta e uma outra amiga que estava perto ratificou seus pensamentos.

-Aquele barbudinho ali né amiga?!

“Droga!”

Lagrimou, mas não iria chorar em publico.

Lembrou de como se conheceram, lembrou da primeira vez que foram pra cama, e da segunda e ultima, por falar nisso, Don foi o ultimo homem com quem Jurema deitou-se, e devido às circunstâncias com o qual ficaram pela última vez, Don jamais acreditaria que ele foi o ultimo, Jurema queria que ele fosse o ÚNICO.

Tentou esquecer que ele estava ali e “curtiu” a festa, até que em dado momento olha para o lado e lá está Don xavecando uma moça, não quis ver aquilo, no mesmo instante foi para o banheiro.

A noite estava sendo difícil, a única vontade que sentia era a de ir embora dalí, ir para casa e chorar em paz. Já não bastava a briga mais cedo, a noite teve que encontrar com um cara que só a ignorava e que provavelmente sempre falava mal dela pros amigos.

Sentia que as coisas iam piorar.

A banda parou de tocar, o local esvaziou um pouco, a inquietação de Jurema só aumentava, não queria mais ficar ali e correr o risco de vê-lo beijando alguém.

Percebeu que Leonina estava inquieta, Leonina era uma conhecida de Jurema, amiga de longa data de Bela que também foi ao bar para a comemoração do aniversário. Mais cedo Jurema contou sobre Don para ela que já o conhecia da faculdade e comentou que ele era um “Rapaz maravilhoso.”

“Sexto sentido de mulher é foda”, já dizia o provérbio popular.

Hora de ir, todos saíram e quem misteriosamente some?

Leonina.

“Meus Deus, não pode ser, eu não acredito no que está acontecendo.”

Os seguranças do estabelecimento não deixaram ninguém mais entrar para procurar a moça que não havia levado o celular não havendo como contatá-la.

- Bela, não estou me sentindo bem, vamos me deixar em casa já que é aqui do lado, depois você volta para buscar o restante da galera, até lá Leonina já deve ter aparecido.

Bela não hesitou, levou Jurema em casa que insistia em repetir a si mesma que o que estava pensando era loucura. Já dentro do carro, resolve então tirar uma dívida.

- Bela, Leonina já ficou com algum rapaz que você gostava?

- Sim, só com o Daniel.

Ao ouvir a resposta Jurema abaixou a cabeça, respirando fundo disse a si mesma que isso poderia ser somente coincidência, quanto a Daniel, ele foi um namorado de Bela, um rapaz por quem ela foi muito apaixonada.

Feito o retorno, elas passariam novamente pela porta da festa, ao levantar os olhos eis que em câmera lenta Jurema vê um casal de mãos dadas saindo de dentro do bar.

Leonina e Don.

- Eu sabia.

- O que foi amiga?

Perguntou Bela, mas o nó na garganta de Jurema impediu que qualquer palavra saísse, apenas balançou a cabeça em negativa e ficou quieta. Seu travesseiro aquela noite foi confidente e testemunha de sua dor.”

P.S.: Voltei :D

A Máximo
Enviado por A Máximo em 22/09/2013
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