NO PEG-PAG
Aos sábados íamos ao PEG -PAG. Com o nosso insuperável fusca, porque as compras seriam para a semana. Saíamos do nosso apartamento, na rua Dom Duarte Leopoldo e, triunfantes, chegaríamos ao Largo do Cambuci, onde, décadas passadas, corria um riozinho simpático na sua total calmaria e inocência e o mesmo na imaginava que, um dia, seria tragado pelo desenvolvimento desvairado da paulicéia. Hora da compra do frango para o almoço de domingo, o macarrão, queijo ralado Teixeira, um tablete de Doces de leite Confiança, a lata do óleo de soja, arroz, feijão,o Pão Pullmann para se colocar as fatias na torradeira, os pacotes de bolachas Cream Craker e a erva doce para as dores de estômago do meu pai.
Eu ficava muito alegre com as compras, sentindo um gosto de prosperidade com a ideia de fartura, pois o mercadinho do seu Altino, vizinho nosso, era o atalho para algum esquecimento da compra dos sábados. De vez em quando, alguma Tubaína gelada vinha do empório do seu Altino ou mesmo um doce de abobora de coração. O meu irmão gostava da bananada em forma de triângulo espetada num palito.
Nos anos 60 o supermercado ainda era novidade em São Paulo. Melhor dizendo, uma novidade para o mundo.
Os supermercados nasceram nos Estados Unidos logo após a crise econômica de 1929, com um objetivo claro: vender barato, sobretudo numa época de desemprego coletivo. Assim, sua expansão pelo mundo foi rápida e o primeiro supermercado do Brasil surgiu em São Paulo, em 1953.
Foi dentro do PEG -PAG do Largo do Cambuci que passei por uma situação de medo – foi o primeiro assalto que presenciei. Com uns doze anos, a minha prima e eu fomos comprar um pacotinho de balas 7 Belo. Hora do almoço, tudo vazio e por ali circulava um homem com um pacote de algodão e, não sei explicar, me chamou a atenção. Não deu outra: em poucos minutos, a operadora de caixa gritava apavorada, de olhos esbugalhados e com as mãos tensas no rosto porque o mesmo lhe apontava um revólver enquanto limpava a gaveta e armazenava o dinheiro dentro do próprio saco do supermercado.
Minha prima e eu largamos as balas e corremos para o fim da loja até aguardarmos o desfecho. Voltamos para casa tremendo e só voltamos lá para pegar as nossas balas no fim da tarde.
Mas a novidade desse tipo de comércio era tamanha que, quando os parentes de Minas chegaram para uma visita de uns dias, convidamos para esse passeio espetacular. A minha tia vibrou com a novidade, a cara de progresso, a maravilha de poder pagar a conta tudo de uma só vez. Ficamos imaginando o entusiasmo, a riqueza dos detalhes, da oferta dos alimentos, tudo a ser contado pela tia ao voltar para as suas Alterosas. As vizinhas, as comadres, as irmãs e sobrinhas iriam ouvir o relato e também se maravilhar com as notícias de uma frenética São Paulo.
Anos mais tarde, levamos a tia para conhecer o Shopping Eldorado. Com todo aquele jogo de luzes e cores, lojas inimagináveis para ela, roupas da moda, cinemas, escalas rolantes, agências bancárias, cafés, sorveterias e lanchonetes para todos os gostos... certamente , com aquele deslumbramento óbvio, teve assunto para o mês inteiro quando ela voltou para casa.