ATOS DE LIBERDADE NOS AUTOS DA LIBERDADE

Mossoró é autointitulada como a terra da liberdade. Por aqui, no mês de setembro, se comemora atos de heroísmo e de louvor a personalidades da história que, em retalhos de suas vidas, se dispuseram a tornarem-se seres coletivos. Foi assim com a Ana Floriano, com a Celina Guimarães, Com o prefeito Rodolfo Fernandes, com a sociedade Maçônica, com demais agregados anônimos da história...

O saudosismo toma de conta da cidade no mesmo instante que a cidade é "enxurralhada" de gritos oprimidos, de corpos calados, de vozes vencidas, de pessoas que se anulam, de atitudes agressoras, de tamanha falta de sensibilidade com ser de hoje, independente de sexo, cor, raça, religião, partido político ou tendência. A liberdade de ontem parece não mais libertar o ser aprisionado de hoje no país de Mossoró.

Assim como nos demais cantos do mundo, por aqui existe a intolerância, a ingratidão, o desrespeito, o preconceito, a falta de sensibilidade, de princípios, de entendimento, de humanização e de civilidade.

As pessoas morrem a míngua, enclausuradas, dentro de si. Ninguém mais ver os olhos como janelas da alma porque a alma é abstração e não existe, também, mais espaço para a abstração. Tudo é muito concreto, nessa cidade concreta de pedras e alicerces.

O fato é que esqueceram de pensar no ser de hoje para se pensar no ser de ontem, como se somente a volta ao passado de glórias, alguma glória viesse ressurgir esperança hoje. Enquanto isso todos dormem, todos dormem profundamente!!!

Atos de liberdade para autos de liberdade presente!

Mossoró necessita de ressuscitar as "Anas" de ontem, reconhecê-las hoje, nas lutas cotidianas, na batalha pela sobrevivência a partir do momento que é acordada do sonho de Alice, aquelas que estão saturadas, necessitadas de compreensão, despidas de suas vergonhas e ignoradas. As Anas construídas de desejos, de paradigmas, de falta de oportunidade, acorrentadas.

Trazer para a realidade o conto de fada da Celina Guimarães e reescrever a história por outro ângulo, outro olhar, outra direção; dizer que É Celina quem vota a favor da vida, da liberdade de expressão, do não ou preconceito, quem tem efeito diante da opressão e diz não, assume discurso, tem pulso e consegue enxergar que fazer arte e ser verossímil, não somente ficcional.

Os construtores de trincheiras, como o Rodolfo Fernandes, não podem criar paredes para esconderem os que morrem soterrados nessa lama de desconstrução social a qual vivemos. As trincheiras devem ser construídas como sustentáculos de proteção aos desabrigados: pobres, mulheres, gay, travestis, transexual, prostitutas, idosos, suburbanos, trabalhadores, mendigos, explorados... Todos formadores dessa cadeia de desrespeito e opressão social. A resistência não deve ser a esses grupos, mas sim, resistir por eles.

A liberdade negra é erótica, não podemos negar. Mapeava o grito dos abolicionistas, em seus bordões,"antes que tardia", estimava o prazer na luta pela conduta do bem, do apreço, da liberdade de uma nação inteira. Não era apenas orgânica, mas fora gestada dentro de um útero social: a liberdade incondicional de um povo para dizer não, seguir a frente e ser gente, povo, nação....

Esse mesmo desejo que necessita de ser apimentado,hoje, no seio social.

Existem pessoas morrendo, sendo esmagadas, diante de tanto preconceito existente na sociedade atual, por mais que a lei minimize dores, a dor existe com profundidade.

Atos de liberdade nos autos da liberdade, é o que se espera para que se possa pensar numa Mossoró que abrace a todos, seja de todos e avance com todos.

(Marcus Vinicius)