Trocando o telefone....

Depois de muita encrenca com os meus filhos, que não queriam andar mais comigo por causa do tamanho do meu telefone, tomei a importante resolução de trocar o aparelho. Isso só aconteceu pela insistência deles, pois andavam me chamando de pré-histórico, dinossauro e até de fóssil, com o que não concordo. É certo que ainda gosto das coisas "a antiga",mas.....Depois de muita discussão sobre o aparelho a ser comprado, fui escoltado por eles até a loja, pois segundo eles, se eu fosse sozinho, ia acabar comprando um telefone qualquer, daqueles que a gente só usa para telefonar. Pois então.... Lá chegando, fomos prontamente atendidos por uma simpática e eficiente vendedora que se colocou á disposição para me vender um telefone que iria satisfazer todas as minhas necessidades e muito mais. É claro que todo o negócio foi feito entre os filhos e a vendedora. Fiquei só de observador enquanto eram discutidas e louvadas as qualidades do tal aparelho que ela queria nos vender, pois o vocabulário usado era inacessível para mim. Os modelos mais simples, daqueles que só usamos para telefonar, foram descartados sumariamente apesar dos meus protestos. Aliás, nem ouviram o que eu disse, ocupados em ferrenha discussão sobre um aparelho que, segundo disse o meu filho, “ era do c...”, e que era aquele mesmo que a gente tinha que levar. A coisa não era muito maior do que uma caixa de fósforos, tinha câmera fotográfica, rádio am/fm, filmadora, acesso á internet e o mais curioso, era que não tinha botões para discagem, além de ser multicolorido e cheio de lampadinhas que acendiam e apagavam o tempo todo. Confesso que fiquei confuso com tudo aquilo e acabei perguntando como é que se fazia para telefonar, o que ocasionou olhares de reprovação de todos os presentes, certamente em função da minha ignorância sobre o assunto. Fui socorrido pela filha, que me mostrou que a coisa se esticava quando a gente mexia em algum lugar e aí apareciam as teclas para a discagem. Incentivado a experimentar, tentei falar com a esposa, mas apareceu uma voz em inglês, que apesar das minhas tentativas de comunicação, não respondeu. Quem matou a charada foi o guri: na verdade eu tinha era ligado o rádio e sintonizado a BBC..... Tentei outra vez e nada... Descobri que tinha fotografado a minha orelha e que já estava on-line! Além disso, a filha anunciou, depois de verificar o que tinha acontecido, que a foto da minha orelha já estava abrigada em um blog na Tailândia, e que iam me cobrar caro por isso! Parece que também filmei a loja toda e a confusão que tinha feito. Não duvido que me cobrem direito autoral e de imagem. Acho até que cobraram, pelo preço que acabamos pagando pela maravilha eletrônica. Tem um detalhe: até hoje não consegui ligar para lugar algum. Por mais que tente, a única coisa que consigo é fotografar as minhas orelhas. Já andam reclamando e dizendo que tenho alguma perversão com orelhas e que vou ser denunciado se não parar com isso. Não é verdade: o outro dia fotografei o meu queixo! Fui até convidado a entrar no facebook e em um grupo de ouvidólatras on-line, o que obviamente recusei. Só sei que a conta do tal celular é enorme. Quem sabe eu consiga usar a maravilha eletrônica quando decifrar o manual, que tem setecentas e trinta e quatro páginas e é em alemão, finlandês, árabe,japonês e inglês. Além disso, os guris já descobriram que a coisa tem outras utilidades além de ser telefone.... Faz foto digital, tem rádio am/fm, dá acesso á internet e sei lá o que mais. Se a gente ligar no computador a coisa no computador, aí sim vamos aproveitar tudo o que ele tem pra dar. Tem que baixar uns programas, fazer alguns ajustes e pronto. Diz o meu filho que também dá para ligar no microondas e na geladeira, mas não deixei ele tentar. Depois é só comprar mais uns quinze acessórios e a coisa vai... O problema é que já ando ouvindo murmúrios de insatisfação pela casa... Anda um comentário na escola que o tal telefone já está ultrapassado e vamos ter que encontrar outro que seja mais atualizado e com urgência. Dizem que tem um que já faz até tele-transporte...

Luiz Carlos Rivera