A ERA MANUAL
E então me vejo quase oferenda em mais uma dessas encruzilhadas sociais: comprar ou não um desses celulares que fazem tudo?
Com todo respeito ao [finado] Sr. Jóbis e seus Ais ecoando mundo afora, mas, às vezes Ai foni, Ai pédi, “I” pode, aí phode a vida social de muitos nas mesas de bar, conduzindo à ruína a tentativa UaiFai de conexão com gente de verdade.
Lá não sou aversa às novas tecnologias e se neste impasse – de aderir ou não ao tal artefato – me encontro, é por ver a praticidade que se oferece diante de tarefas, ora tão ritualísticas, como verificar e-mails e respondê-los.
Tempo, sabe-se, é artigo de luxo, e poucos são os assuntos que nos façam doar o nosso. Por isso, talvez, seja a carência o mal do século.
Paralela a essa mercantilização na qual a moeda é o Tempo – só dou Tempo em troca de um “bom produto” - existe a era, veja só, do amor-próprio.
Se antes as pessoas buscavam um modelo a seguir, quer no trabalho, quer na vida pessoal, hoje – pasmemos – a maioria parece querer ser quem de fato é! Vide internet, espaço onde cada um divulga o que sabe e encontra guarida.
Se o discurso de outrora era o de “adapte-se ou perderás”, hoje é “valorize-se e triunfarás”.
Aí entra o paradoxo: a era do orgulho identitário, da autoafirmação sexual, política e social é saída desde a ponta do dedo indicador, em Comic Sans, tamanho 12?! Mostrar toda a capacidade e diferença enquanto indivíduo é feito entre uma partida e outra de Candy Crush?! É isso?!
Dada a meia verdade que é confundir crescimento pessoal com a evolução do Mobáiou- e pior: com TER um Mobáiou moderno-vos digo: nem Arial, nem Times New Roman: a nossa fonte continua sendo aquela que a mente dita às mãos. Nascida da agressão do grafite ao papel em tenra idade, endireitada no caderno de caligrafia, para, finalmente, ser transgredida e ser o que hoje é. Essa vem de dentro, sem serife, e, assim como qualquer outra, só é compreensível para quem quer compreendê-la.
Glossário
Ai foni: Iphone I pode: Ipod Mobáiou: Mobile
Ai pédi: Ipad UaiFai: WiFi