SEQUESTRO MORAL ("Precisamos aprender a falar sem aquela conotação de resistência. A beleza da fala está no patrocínio do entendimento." — Juahrez Alves)

Por esta época (último bimestre escolar do ano letivo), amiúdam-se as campanhas para formatura dos terceiros e nonos anos. Formados em quê? (pergunte-se de passagem). Que um político esbanjador de dinheiro público, tendo muito a ganhar com isso, seja o patrocinador ou ainda, os pais paguem por esse lazer dos seus filhos. Estou cansado de contribuir para festas da escola: ora é o retorno de alguém ao trabalho, ora aniversário de todo mundo, ora o "chá de berço" de alunas e funcionárias, ora a despedida; e isso é o ano todo! E ainda comemorações do dia disso ou dia daquilo. Agora o simbólico padrinho de turma ser pressionado mais uma vez até o sumo de sua moral e dignidade é uma aberração. Pagar para trabalhar nunca me agradou, apesar de já ter feito isso algumas vezes, por que não pude fugir mesmo (pressão demasiada).

Alunos correndo atrás de seus professores, pedindo dinheiro ou lhe vendendo alguma futilidade não é mais deprimente que seria, se fosse implorando por nota? Devo admitir, pois nesse último caso, o professor pode negociar com o aluno um trabalho escolar no intuito de fazê-lo merecer a sua nota sem configurar corrupção, desenvolvendo assim sua intelectualidade. Mas, pedir dinheiro, é descarado demais. Suborná-los para ter uma boa relação, se nunca der, eles bagunçam mais ainda vingando-se do professor "pão duro" e olha que jamais faltará incentivos do mal, dos "aneticonizadores". Ajudar com dinheiro o aluno menor de idade sem a interferência de seus pais é pré-dispô-lo à marginalidade. Dinheiro fácil nunca fez bem a ninguém!

O trabalho, por mais simples que seja, dignifica o laborioso e, longe de ser um castigo, é uma benção, serve para desenvolver o ser humano tridimensionalmente (mente, corpo e espírito). Ah! Mas, ao "de menor" é proibido trabalhar, tinha me esquecido disso!!!!

Neste mês de outubro, comemoram-se o dia da criança e o dia do professor logo em seguida! Se temos de patrocinar a festa das crianças, e não o fizermos jamais terá a festa dos professores. Se não acontecer uma, de forma alguma acontecerá a outra respectivamente. E ai do professor se se atrever dizer piadinhas cobrando o reconhecimento gratuito, leva uma resposta das quais ouvir de uma aluna, daquelas que se acham a melhor por ser crente: — professor que não colabora nem merece festa. Justiça à flor da pele!!!

Patrocinar lazer de aluno não é papel de professor que se preza. É como disse Eliete: "Estudar é um trabalho que dá trabalho". E eu a parafraseio, dizendo sobre o ensinar sendo um trabalho trabalhoso. Todavia, sinto-me igualmente a um sequestrado por muitas vozes, recusando-me a pagar o resgate, porém todas se atentam contra minha sobrevivência.