SUTIL DIFERENÇA

Faltavam-me três itens para a ceia de Natal. Fui ao mercado classe A, onde tudo é muito mais caro, mas não tem tanta gente.
Já estava na fila, atrás de um senhor que, de repente, bateu na testa com a mão espalmada, e disse consigo mesmo: Meu Deus, esqueci o champagne!
Virou-se pra mim e me perguntou se eu poderia cuidar do seu carrinho enquanto ele iria pegar a garrafa.
- Claro, pode ir tranquilo, ainda tem dois na nossa frente.
Ele voltou e, educadamente, me agradeceu.
- Muito obrigado, se eu chegar em casa sem o champagne minha mulher vai dizer que eu sou um velho esclerosado que me esqueço de tudo.
A verdade é que a memória nos falha mesmo, não é verdade?
- Isso acontece nas melhores famílias, não se preocupe – lhe disse eu.
Passados alguns dias fui fazer as minhas compras no  mercado onde tudo é mais barato mas, em compensação, a frequência é bem diferente.

A mesma cena se repetiu, com uma sutil diferença.
O senhor que estava na minha frente, bateu na testa e exclamou: pu-ta-que-pa-riu! Esqueci a cachaça. Se eu chego em casa sem essa porra aquela nega vai me espinafrar, dizer que eu tô ruim da cachola, que não sirvo pra nada e que...
Olhou pra mim e peerguntou se eu poderia olhar o carrinho dele.
- Claro, pode ir tranquilo, ainda tem um carrinho na sua frente.
Quando ele voltou agradeceu polidamente: brigadão aí, madama. A memória é foda, né?
Eu, para parecer que jogava no mesmo time, disse: é foda mesmo!

Não é que todo mundo que frequenta aquele mercado seja mal educado, mas a maior parte, com toda certeza, não estudou em Harvard
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edina bravo
Enviado por edina bravo em 08/10/2013
Reeditado em 05/03/2015
Código do texto: T4516467
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