Amanhecer

E então pequenos pedaços do amanhecer aparecem através das brechas de minha cortina. Não mais a aconchegante escuridão. Não mais esperanças de um dia melhor. Em meio a pensamentos tolos, toco o chão frio e empurro a porta de minha prisão particular. Estou exposta agora. Todos na casa dormem. Me encaminho para a cozinha.

Seis em ponto, checo no relógio centralizado em meio a duas janelas. Empurro o vidro da janela à direita e minha face é agredida gentilmente por um sopro gélido.

Morar no centro da cidade às vezes é sem graça, reconheço. Às seis da matina, a rua cinza e vazia é parque de diversões para os gatos. Na casa da velha e ranzinza senhora à frente, gatos brancos e cinzas pulavam do telhado à rua, escondendo-se ocasionalmente

de um jovem trabalhador ou um velho senhor carregando seu saco de pão.

Um grupo de seis guardas municipais passa espaçosamente no meio da rua, um carro vira a esquina, o gato atravessa a rua e escala a árvore. Detalhes monótonos de uma vizinhança nada monótona.

Uma leve pontada em minha cabeça me lembra de que deveria estar dormindo. Sim, a noite é uma criança. Uma criança chata e mimada.

Silenciosamente fecho a janela, viro-me de costas para o cotidiano e recolho-me de volta para meu quarto/prisão. Ao passar pela sala, o cachorro se mexe no sofá laranja, resmungando algo incompreensível.

Minha prisão gélida me aguarda pacientemente.

Júlia Schneider
Enviado por Júlia Schneider em 16/04/2007
Reeditado em 12/03/2013
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