A criança que não se vê...
{Iodhêvôhê Tsebaoth}


Acho que a poesia nasceu 100% no primeiro riso da primeira criança.
Mas aos poucos e algum tempo depois, muitas crianças foram nascendo e se esparramando pelo chão... (há outra parte que tem a chance de ser feliz), pelas sarjetas da cidade e virando batatinhas e pérolas aos porcos e assim, também, é com toda poesia, que seviciada, se tornou uma indecência vestida hipocritamente de palavras limpas.
Umas são chiques e estão na mídia, outras perambulam, nômades, pelos submundos.
Aos poucos, essas poesias e crianças do submundo, submergem e vão para as ruas, por que em casa, o mundo adulto é um mau exemplo, é mentiroso demais.
Mas isso tem um destino cruel, pois se depara com os predadores da infância desprotegida, do dinheiro fácil, da mentira permitida, da virgindade negociada, enfim, a vida vai indo.
Não importa o rumo, não se discuti se rende!
E a poesia também foi sendo despetalada, arregaçada fundida. E se viu como uma prostituta vestida de rimas, métricas, postes.
Ah! As crianças das ruas!... Aqui, ai... Não importa o lugar, a cidade, o continente.
Você já foi debaixo de viadutos oferecer um lanche a uma criança prostituída, drogada, estuprada?
Tem medo não é?
Já foi respirando normalmente, de peito e nariz abertos?
Tem nojo não é?
Pois, se fizer isso, vai sentir no fundo da alma, o cheiro insuportável do desprezo pela vida!
(sim, estou falando claramente de merda, suor impregnado, xixi, vômitos, cachaça, resto de comida, lixo, álcool, cola, crack etc... tudo junto e misturado...)
Esse retrato não custa caro... Basta observar a rotina dos faróis, dos viadutos, das praças e, com toda certeza em qualquer cidade do país, verás e sentirás nos olhos dessas crianças, o desprezo mutuo... (sim, elas desprezam esse olhar que as vê), perceberás o desprezo pela própria vida, pois elas sabem que estão presas a essa morte miserável, atadas, sem chances de escapar das minas urbanas.
Sim. Das janelas que nos protegem, ouvimos os uivos, confessando que nada mais tem importância, que tudo vai se tornar prisão e morte.
Pois bem, eu saí do conforto das palavras, saí daqui de onde estou escrevendo, depois de passar um dia em que fui assaltado a mão armada, para estar junto a um grupo de crianças moradoras da rua... Sim, na Europa tem crianças moradoras de ruas (crianças, adultos, velhos), na maioria estrangeira, perdida e atropelada pela lógica da discriminação, preconceito, mercado, PIB, máfias, governos, cafetões, traficantes, etc.
Sim, senti e absorvi todos os cheiros, todas as fomes, sedes, doenças, medos, coragem.
Qual é nome disso?... Poesia!... Pois, quem diria poesia...
Dê mais um passo!
Sim!... Você mesmo! ...
Tem gente querendo fazer filme, documentário disso!
Mas a conversa é outra, muito outra...
Rasgue, por instantes, posts, poemas, papo cabeça, o caralho.
Sabe, tem aqui do meu lado, uma menina criança, de 12 anos, que (dá por ¢2,00)... E ela diz que por esse preço faz tudo, dá como o cliente quiser comer, pois ela precisa cessar o desespero por algumas gramas de coca, ou um grãozinho de Oxi.
Não vê poesia aqui meu irmão?... Sim, é bonitinho filosofar sobre o que parece começo, infância, diversão, escola, afeto, mas o fato é feto e, na foto, o fim.
De mais um passo, rasgue os meus poemas...
Por que a criança alheia, essa criança que não se vê, essa criança desconhecida, marginal, perigosa e viciada, não pode, ironicamente, se proteger!...
O seu peso é frágil e isso mete medo.
A ignição silenciosa é uma merda e a toda hora se aproxima do ponto de explosão.
O resultado do que está acontecendo agora e aqui?
Não vou fazer poema, não vou fazer telas e nem retratos.
Não sei o que vou fazer, pois a merda mais foda disso tudo, é perceber que essas pessoas vão se foder mesmo, e pouco eu posso fazer. Mas, uma coisa eu sei que, por hora, o que eu posso fazer para esse grupo de sete crianças. Levá-los para tomar um banho, fazer curativos, cortar cabelo, roupa nova e um bom jantar.
E depois? Não sei. Só sei que vou rasgar todos os poemas!

* Dia das crianças?... Abracemos as nossas...
Não tenho a pretensão de discurso não e nem ser mercador de verdades, não sou hipócrita de achar que não se deve "paparicar" nossas crianças, fazer isso com a alma limpa, claro que sim... E fazer com o maior carinho do mundo, com a maior alegria do mundo, dar presentes, fazer os mimos das exigências mais estapafúrdias. Enfim, amar as nossas crianças pelo seu dia, com a maior das boas vontades. E sim, gastar com presentes, gastar com eletrônicos, games e acessórios etc.
Mas, por favor, rasgue os poemas...
Isto significa que: Invista no cidadão que a sua criança será, ensine-o a não ser supérfluo, faça-o entender e praticar poupança para o futuro, para o estudo, para investir em solidariedade.
E ensine-o, finalmente, a praticar o melhor dos investimentos, ser voluntário do afeto, ser empreendedor de instituições que salvam pessoas, que saiba, enfim, a compartilhar gestos e não poemas.
Blá blá blá....
Ensine-o a doar amor, doar palavras que vem precedida de atos!
Muitas crianças desconhecem isso.
Pois, para essas crianças que não se vê, por que não se quer olhar, talvez apenas um gesto seja o maior presente do mundo... (ela nem sabe o que é o dia da criança, ela nem sabe o que é uma criança!).
Doe...
Mas, rasgue os poemas!


Fotomontagem e Edição > Tina...

* Texto postado no Facebook - Perfil > Cult Hall...
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Tina Bruxinha e Iodhêvôhê Tsebaoth
Enviado por Tina Bruxinha em 13/10/2013
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