Estou de volta para o Brasil!

Cansado da violência nossa de cada dia, e preocupado com o futuro de minhas filhas, que um dia espero se formem em alguma coisa em alguma universidade, resolvi que iria embora do Brasil saindo do Sertão pela estrada mais deserta, e embarcar rumo aos Estados Unidos “terra de paz”, pensei! Pesquisei qual o aeroporto com menor índice de atraso nos vôos, tal pressa que estava em fugir desta revolução sangrenta onde a brigada vermelha ameaça os exércitos cáqui, azul e verde amarelo de susto.

Meu plano mantido secreto para todos, consistia em rasgar todos os papeis inúteis que há anos venho arquivando, vender para a loja de usados as mobílias excedentes, apenas guardando em um quarto de despejo na casa de minha comadre algumas camas, a mesa do computador, e os ditos para caso de arrependimento. Aproveitei então o fim de semana e coloquei em prática o início do que pensava. As crianças foram para a casa da comadre, a minha companheira, amiga, seguidora, fiel e amada esposa desconfiava de algo. Mas como sou imprevisível ela acompanhou as crianças.

Na segunda-feira dei-me a tarefa de quebrar o fundo falso de um armário, feito para guardar alguns milhões caso visse a ganhar na loteria ou quem sabe no jogo do bicho. De lá retirei velhas notas promissórias impagáveis, dois cofrinhos de moedas, e aquele álbum fotográfico que me fez relembrar o Rio de Janeiro do meu tempo de “menino vândalo”, quando o máximo que meu bando fazia era tomar o leite que uma velha viúva comprava para dar aos seus vinte gatinhos, e que na madrugada o leiteiro já deixava em litros em sua varanda.

Bons tempos em que adolescentes não quebravam as coisas, não assaltavam ninguém, e raramente fazia-mos barulho na madrugada que pudesse incomodar os moradores, e quando isto acontecia era imitando os Beatles ou Roberto Carlos. Por vezes parávamos em uma praça escura, sem risco de assaltos ou violência, e ali soltávamos altos suspiros pela linda e loira Vanusa que cantava "Pra Nunca Mais Chorar". Bons tempos em que eram poucas as surras merecidas.

Enfim, na noite de segunda-feira meu plano já estava a ser concretizado, seria a última noite em que sentaria no velho sofá e assistiria jornal da TV, a última vez que veria cenas de violência, pronto que estava para ir viver em Virginia, um estado Americano onde reina a paz. Reinava! A telinha me mostrou a chacina na Universidade Virginia Tech... Desfiz as malas que sequer havia feito, desarmei meus pensamentos, e estou de volta ao Brasil, de onde felizmente nem sai, colei meus papéis rasgados e não vendo meus velhos móveis. Nada de hamburguês, continuo saboreando o assado de bode do meu sertão!

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, Guanambi, BA.

“Violência por violência, vamos viver e combater a nossa!” Diz.