Contrastes cariocas

14 de outubro de 2013. Rio de Janeiro. Início da noite. As ruas centrais da cidade acendem suas primeiras luzes, que resplandecem e clareiam os contrastes. Os prédios suntuosos mostram suas belezas ao anoitecer. A bela iluminação difere-se da simplicidade dos transeuntes que, a essa hora, organizam os últimos materiais, pegam as bolsas e caminham para suas casas distantes. Seus rostos transparecem cansaço e leveza, afinal, mais um dia chegara ao fim e era hora de retornar à realidade diferente àquela das luzes centrais.

Mais passos, mais construções. Cinelândia. A lua, em parceria com os prédios acesos, reforça o ar de boemia da noite dos cariocas que se reúnem nos bares e restaurantes. Entre bebidas e sorrisos, eles se esquecem de olhar ao seu redor. Ali, bem ao lado, no monumento em homenagem a Floriano Peixoto, um mendigo dorme, alheio ao mundo e suas graças. Em seu sono profundo, ele permanece esquecido.

Em um banco, atrás do mesmo monumento, um casal namora. Entre abraços e beijos calorosos, são fuzilados por olhares inconformados. Afinal, aquele não é o lugar ideal para esse tipo de coisa. “Falta-lhes dinheiro? Quarto?”, questionam os passantes, que, à medida que seguem, mantêm a cara de espanto.

A leveza, antes tão perceptível, transforma-se em tensão quando os professores que ocupam a Câmara são avistados. Amontoados, abandonados pelo Estado que deveria lhes dar voz e ouvidos, eles observam os rostos curiosos que passam por ali. Alguns se refugiam em barraquinhas para fugir das noites frias.

Inconformados, aqueles que lutam por seus direitos continuam no local e não fazem questão de abandonar seus ideais e certezas. Quem transita por ali, naquele momento, não imagina que, no dia seguinte (completamente oposto à paz que, supostamente, reinava na Praça Floriano Peixoto), o protesto, do qual participaram cerca de 20 mil pessoas, terminaria com a detenção de aproximadamente 200 pessoas e a prisão de cerca de 60, trazendo ares de ditadura militar à manifestação.

A alguns metros, o luxuoso Theatro Municipal do Rio de Janeiro está de portas abertas. Por lá, passeiam jornalistas e estudantes, preparando-se para a premiação que acontecerá naquela noite. Em seus rostos, é possível avistar o prazer e a curiosidade típica dos profissionais. Concentrados em suas próprias realidades e vontades, eles, por alguns minutos, abrem mão de análises acerca do que se passa ao seu redor. Mas, longe das janelas e entrada do imponente prédio, é possível concluir que, em uma cidade de contrários que vive tempos de guerra, toda paz é fugaz.

Paula Vigneron
Enviado por Paula Vigneron em 17/10/2013
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