Chance Perdida

Eu estou quase cega pela correria diária, as pessoas que passam por mim são vultos e carrego nas costas o peso da rotina. Saio tão apressada de casa que nem me olho no espelho, as poças de águas na rua me servem como espelhos e reflexos do céu, porque não tenho mais tempo para admirar a lua ou o formato das nuvens.

Eu sou tão desastrada que esbarro com quase todo mundo que fica pendurado no metrô e quando chega minha estação de desembarque mal olho para os lados e subo a escada rolante correndo. A fila do ônibus está muito torta e não consigo entender o seu início ou final, mas supondo que o final seja entre a distância de uma moça e um rapaz.

–Você está na fila?-Pergunto-lhe.

Ele está mexendo no celular, de costas para mim. O rapaz se vira.Ele é alto, deve ter uns bons 1,85 m de altura, é branco, possui cabelos curtos lisos e castanhos médios, quase louros, uma barba por fazer, olhos verdes e usa uma calça jeans escura, com uma camisa e um all star pretos.Seria um quase rock star norte-americano.

-Estou, mas o final da fila é lá... - Me indica com o dedo o fim da fila, embora seus dedos estejam muito longes, seus olhos me observam.

-Ahh... ta.Obrigada.-Respondo-lhe e agora ele repara minha boca.Engulo um saliva em seco.

Enquanto afasto-me de sua presença, posso sentir seus olhos seguindo-me as costas. É tão bonito –penso ao observá-lo sutilmente de longe, de repente ele me olha, desvio rapidamente o olhar.O ônibus chega, todos subimos e ao lado dele há espaço vazio, ele me olha quase como se estivesse me esperando, eu passo reto em direção as cadeiras finais do ônibus, por ter um pensamento louco em achar que sentando ao lado dele, poderia ficar perceptível que eu estou o seguindo, o que é uma insanidade.

Sento-me numa cadeira alta e enquanto enfio fones para escutar músicas em meus ouvidos, penso comigo mesma: Droga, mais uma chance perdida.

Déborah Menezes
Enviado por Déborah Menezes em 30/10/2013
Código do texto: T4548977
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