E SE...

Ele tem apenas dez anos e me ligara dizendo que precisava fazer uma entrevista para um trabalho de escola. Coisa rápida, uma só pergunta e tudo estaria resolvido. Pode ser? Ok. Vamos lá então, qual é pergunta?

E se de repente os homens menstruassem? De que maneira o mundo se transformaria?

Caramba!Pensei comigo. Isso é lá pergunta que se faça, exigindo uma resposta assim, de bate pronto? Percebendo meu silêncio, um tanto quanto constrangido ele me disse para ligar assim que tivesse alguma resposta que ele pudesse aproveitar. Despediu-se e desligou.

Pensei que, talvez, talvez o instinto maternal invadisse territórios povoados somente pela testosterona e desse uma suavizada nas engrenagens que movem Áries no Afeganistão, Iraque, Rocinha, Morro do Alemão e outros tantos congêneres.

Pode ser que o ‘sangue perdido mensalmente’ dispensasse a necessidade de vertê-lo ocasionalmente em uma discussão de trânsito, uma crise de ciúmes ou um placar desfavorável.

Quem sabe providos de maior delicadeza, conseguissem resultados mais eficazes no desarmamento atômico porque aprendessem a relevar, a ceder, a perder...

Possivelmente entendessem que sair por aí transando para satisfazer o ego e ‘humilhar a concorrência’, também gera frutos que crescem, vão à escola, médicos, parques, festas e que um dia precisarão de alguém para conversar e se espelhar.

Ou então, talvez, quem sabe, nade mudasse.

Talvez as coisas apenas se tornassem mais convenientemente práticas:

- Os estádios de futebol se converteriam em centros de conveniência – quando o ‘cliente’ , já com o filho na barriga vai ao jogo para transmitir o amor ao timão desde cedo, entrega a chave do carro para que seja lavado, tenha o óleo verificado e abastecido, enquanto um outro atendente se encarrega da lista do mercado e da lavanderia;

- O chá de bebê só seria permitido no clube - futebol ou golfe – dependendo da linhagem e desde que, terminasse com uma suculenta picanha fatiada e uma ‘loira gelada’ bem tirada – sem álcool lógico –

- Comprar roupas, sapatos etc. só pela internet ou com uma personal shopper que além de sósia da Gisele, se encarregaria de pesquisar tendências, trazer catálogos, amostras e tudo mais, ainda faria bonito com os amigos, afinal de contas, essa história de ficar horas procurando vaga em shopping e amargando do lado de fora de provadores lotados e apertados era coisa de sadomasoquista e pobre ainda por cima;

- A licença maternidade seria como uma gorda carteira de ações e já viria com ‘filhotes’. Asseguraria toda uma ‘entourage’ com direito a babá, massagista, manobrista e outros assessores – afinal, nove meses carregando o bebê já foram bastante significativos.

- Todo o estresse da escolha da escola seria coisa de um passado remoto. O bebê teria preceptores entrevistados rigorosamente sob os mais variados e abrangentes aspectos – principalmente o quesito físico, cuja exigência mor seriam capas e comerciais de cerveja, Playboy, Victoria Secrets etc. e etc.

- Preocupação com baladas, raves, drogas, más companhias, álcool e direção seriam meros detalhes, afinal, não há nada que um pai jovem, sarado, abastado e influente não dê jeito, e, ainda por cima, não acabe se divertindo não é mesmo? Mas...e aquelas conversas de pai para filho, broncas, ‘impor limites’, passar valores, moral e bons costumes, dar responsabilidades? Ah, isso! Fica para mãe. Afinal, se ela não teve que carregar o ‘bendito fruto’, que pelo menos dele se encarregue certo?!

O sol já ia longe quando telefonei de volta e disse que havia pensado em algumas coisas, mas que era melhor nos encontrarmos para um sorvete e uma longa conversa. Ele topou no ato,afinal nada mais másculo que unir o útil ao agradável.