O QUE PESAM OS VALORES ATUALMENTE


Edward Snowden e Gerard Depardieu... Dois nomes de nacionalidades diferentes... Ambos a viver exilados na Rússia mas por razões completamente distintas. Foram manhosamente, sabiamente, acolhidos por Putin. O primeiro, denunciou os excessos da NSA como polícia do mundo, as escutas telefónicas a presidentes, entre os quais a do Brasil e até a milhões de cidadãos anónimos que de repente passaram a ter importância. O segundo, apenas para escapar ao fisco francês. Na prática duas fugas, mas com motivações bem opostas. E também com enquadramento legal diferente, pois o primeiro é um proscrito, procurado pela justiça americana, acusado de alta traição e o segundo limitou-se a mudar de ares.

Qual dos visados tem mais razão para essa mudança?
À primeira vista será o americano, pois a sua vida certamente estará em risco. Já o ator francês, que muito admiro em termos profissionais, terá menos razões para trocar de país, inclusive também mudou de cidadania, mandando o patriotismo para as urtigas.

Em ambos os casos deverão equacionar-se outros valores, mas parece que a denúncia feita por Snowden tem um efeito muito mais relevante na opinião pública, já que o facto de Depardieu mudar de nacionalidade não afeta minimamente o comum mortal.

Acho que os dois procedimentos merecem uma análise mais profunda. É lícito proceder impunemente violando os direitos individuais? Você gostaria de saber que as suas comunicações são escrutinadas a belo prazer por entidades ocultas, que a pretexto da segurança nacional de um país ultrapassam o razoável e sabem tudo da sua vida pessoal? Nesse ponto de vista, parece inteiramente honesto e justo que essas situações sejam denunciadas. Foi precisa muita coragem para o fazer.

Relativamente ao outro caso, pois é vulgar os mais endinheirados aproveitarem os paraísos fiscais para colocarem o seu dinheiro (nem sempre limpo) a salvo dos impostos que consideram exorbitantes. Mas parece excessivo chegar ao extremo de mudar de nacionalidade por razões financeiras.

Vivemos num mundo onde o cinismo e a hipocrisia assentaram arrais sob o lema da diplomacia. Cada vez mais se cava um fosso entre poderosos e ricos por contraponto aos mais fracos e pobres. Os países mais importantes - o grupo dos G8 - vivem completamente a leste dos problemas dos países menos desenvolvidos, onde a fome grassa e a violência encontra campo de ação. A poluição continua a fazer graves e irremediáveis estragos no futuro da Terra em que todos vivemos, as guerras proliferam com satisfação dos países produtores de armamento. E quem podia alterar este estado de coisas permanece indiferente.

Onde andam os valores que deveriam prevalecer nas sociedades modernas? Onde iremos parar?


 
3/11/2013