1/2 MALANDRAGEM

Aí ô ‘vagaba’... vou mandar um papo reto que é pra você entender de vez..

A vida é um eterno perde e ganha, num dia a gente perde e no outro apanha.

Quero saber pra onde é que você foi na noite passada?

Anda... olha dentro dos meus olhos e conta umas mentiras,

Mulher indecente que se finge de carente...

Você vai sonhar com meus pés descalços plantados no chão, criando raízes escuras ao redor de seus olhos.

Bem que devia ter desconfiado dessas suas melenas tratadas, banhadas em leite e fel,

Anda... olha pra mim...

Eu não me encolho. Não me conformo.

Minhas mãos não têm sonhos. Só presságios.

Não faça cena – ajoelhe-se – implore pela mais dura pena...

Antes, eu costumava ter a firmeza de um alguém que habitava outra face. Hoje sou nada.

Sofri por você ... Sofri por Homero, Otelo, Obélio, Otário, todos aqueles... ditos bravos guerreiros mas na verdade puro naufrágio, se entupiam de vinho, e da vida se esqueciam com outras...

Calei suas feridas de viver por quem não te via,

Quando fustigada e já não mais chorava, não te deixei embrutecer.

Agora, você me obriga a tecer bordados nesse seu rosto lindo, que tantas vezes na minha saudade beijei saciando fome e sede, nesse corpo em que tatuei caricias plenas e obscenas.

Pena que você não entendeu. Não sou daquelas mulheres de Atenas.

*txt escrito casado com fragmentos da letra 'Mulheres de Atenas' de Chico Buarque*