DROGA, NÃO ERA ELE!

Retornando para a sala, minha colega avisou-me que “uma voz romântica” havia me ligado. Completamente alheia à razão, deixei que o coração decidisse quem era o dono dessa voz.

Esperei alguns minutos, aguardando que me ligasse novamente. Um pensamento me ocorreu, claro, mesmo que eu tenha tentado fugir. Era fácil, tomada pela explosão de sentimentos que me fazia sentir correr o sangue, apostar no que eu queria: a voz era dele, eu sabia!

Cogitei o motivo da ligação. Poderia estar querendo me propor algo ou, talvez, apenas me dizer alguma coisa de amor. E, se assim fosse, mesmo umas poucas palavras de carinho me bastariam.

Apesar do esforço fora do comum para não acreditar nas ideias desordenadas em meus pensamentos, não resisti por muito tempo e liguei de volta, pelo menos “de volta” baseada no que eu supunha.

Atendendo a minha chamada, suas palavras ao meu ouvido soavam como música:

- Educação, boa tarde!

- Boa tarde, “Educação!”

Foi o que consegui dizer, sem graça, sentindo-me meio desconfortável, como se estivesse cometendo um crime. Ao reconhecer a minha voz, ele, como se mostrasse surpresa, continuou:

- Oi! Tudo bem com você?

- É... tudo certo comigo!

- E o trabalho, vai bem?

- Humrum...

- Boa Páscoa pra você e toda a família!

- Pra você também. E aí, vai viajar?

- Vou.

- Ah, legal!

Embora me sentisse boba demais em perguntar, não consegui segurar e arrisquei, numa atitude imbecil e imperdoável. Eu nem precisava mais falar nada, poderia ter me contentado em concluir, nas entrelinhas do nosso diálogo, que não era dele a “voz romântica” que me ligou mais cedo.

Mesmo assim, na minha santa insanidade, ousei:

- Você me ligou hoje?

Preparei-me para a resposta que, na verdade, eu já conhecia.

- Não, não fui eu!

Meus ouvidos chegaram a doer. Fiquei magoada (pra variar) com a negativa que me veio pelo fone. Insatisfeita, continuei:

- Ah, pensei que era você, para me desejar Feliz Páscoa...

- Mas acabei de lhe desejar, pra você e a família!

- Mas eu não quero seu “Feliz Páscoa”. Você está aproveitando a minha ligação! Esquece, foi engano!

Bati o aparelho com muita raiva, transtornada. Mas que culpa ele tem se a minha mente cria facilmente as situações que eu queria viver?

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 05/11/2013
Reeditado em 05/11/2013
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