Professora me desculpe, mas...

Abram na página quarenta e dois. Foi o único som que ecoou na sala de aula quando a professora de português entrou. Achei essa atitude um pouco rude, mas obedeci à ordem. Era novo na escola, então, não sabia muito bem como funcionava o sistema e tampouco tinha feito muitos amigos, decidi me virar e perguntar ao meu colega do lado:

- Ela é sempre assim?

- Sempre, um saco. Psiu! – Ele respondeu.

Ela chamou nossa atenção, cuspiu um bom dia, apresentou-se rispidamente e começou a aula. Bem, eu não chamaria aquilo de aula. Basicamente, ela sentava numa cadeira na frente de toda a classe e lia tudo o que estava no livro e nos mandava responder às perguntas dos exercícios. Sem ao menos explicar qualquer coisa, nem mesmo aqueles pontos gramaticais que eu duvido que ela saiba. Foi horrível.

Saí da escola naquele segundo dia de aula me sentindo realmente chateado. Na escola que estudei antes dessa, a professora de português era muito legal e gente fina, aprendíamos sem nem sentir que estávamos numa sala de aula monótona, mas agora tudo havia mudado. Eu havia acabado de virar a esquina quando o meu colega do lado, com o qual reclamei da professora, me chamou pelo nome e me pediu pra esperar. Assim que ele me alcançou, começou a falar da escola e descobri que seu nome era Pedro.

“... ela é muito chata, mas nem sempre foi assim, parece que vivo um déjà vu toda aula, desde o ano passado decorando conjugações e nomes de orações subordinadas, não aguento mais!”

No dia seguinte teríamos aulas duplas de português, logo após o intervalo. A professora entrou na sala, cuspiu um bom dia ríspido e começou a falar sobre a matéria. Não sei o que me deu, mas enquanto ela balbuciava alguma coisa sobre conjugação verbal no pretérito mais-que-perfeito, a agonia de ficar naquela sala me fez gritar:

- Professora, me desculpe, mas a senhora não acha que a sua aula não é antiquada? Porque tudo o que a senhora faz é ler o livro, mandar que decoremos e façamos exercícios. Não há nenhum tipo de interação entre nós e todo mundo fica calado e se sentindo repreendido e eu também acho que devíamos ler textos e livros mais interessantes!

- Você acha mesmo? – disse ela com ar reprovador

-Acho – engoli em seco

- Pois fique sabendo, mocinho, que o senhor não deve achar nada, eu sou a autoridade máxima dentro desta sala e, pelo que sei, sou formada e habilitada para dar aulas e o senhor é um mero aluno do 9º ano e não sabe nada sobre isso, não é mesmo?

- Mas isso...

- Mas nada, agora pegue sua agenda e dirija-se à diretoria imediatamente, eu o acompanharei.

Fiquei perplexo e calado. Peguei um dia de suspensão, minha mãe me deu uma surra e me deixou sem vídeo game, mas pelo menos eu mostrei minha opinião e ainda acho que estou certo, apesar do Pedro me dar um chute na canela toda vez que eu ameaço dizer algo à professora, acho que ele só quer ir jogar vídeo game comigo lá em casa, por isso me repreende, porque eu sei que ele e todo mundo da sala concorda comigo.

Gustavo Ribeiro
Enviado por Gustavo Ribeiro em 06/11/2013
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