OLIVEIRA PAIVA E A DONA GUIDINHA DO POÇO

Oliveira Paiva traz na sua obra Dona Guidinha do Poço a linguagem do sertanejo, o falar do tabaréu lá da brenha. Nenhum outro romance mostra o falar do sertanejo tão bem, como o livro deste Oliveira Paiva que morreu aos trinta anos de idade. O autor de Afilhada tinha um dom extraordinário para a prosa, enfim, para a literatura de um modo geral. Se não tem morrido tão moço, talvez tivesse sido o maior beletrista cearense. Li muitos escritores do Ceará, porém Oliveira Paiva foi sempre de minha preferência. Dona Guidinha do Poço narra um crime passional onde a mulher manda matar o marido e faz a gente meditar bastante como foi que um jovem de pouco mais de vinte anos o escreveu. Tal o Pai e Tal a Filha é um conto autêntico de Oliveira Paiva que confirma ainda mais o talento do grande escriba cearense. Ao lado de João Lopes, Oliveira Paiva teve o seu momento de artista e intelectual íntegro. Antônio Sales, o Moacir Jurema, fala do valor de Oliveira Paiva e do grande caráter que tinha o contista cearense e autor do romance A Dona Guidinha do Poço e também do romance A Afilhada. Recentemente li uma biografia do genial escritor cearense e descobri algo interessante sobre a vida do grande literato fortalezense. O Ceará deu muitos escritores fantásticos, bons poetas, enormes trovadores, no entanto o nosso Oliveira Paiva no romance regional talvez esteja em primeiro lugar. Quando a gente lê o romance de Oliveira Paiva dá uma impressão que a gente está no sertão ouvindo o caipira falar no seu linguajar grotesco dizendo os termos sem conexão e numa ortoépia completamente estranha. A conversa entre os personagens mostra toda a dialética do homem do campo, daquele povo que não pode aprender a ler de maneira alguma. Monteiro Lobato lendo alguns textos do romance de Paiva ficou impressionado com o talento do artista cearense e sobretudo nordestino. Muita gente torce o nariz para não ler a obra de Oliveira Paiva porque sente com certeza alguma crítica feita pelo grande escritor a alguns figurões da política do Ceará à época. Eu tenho muito apreço por três literatos cearenses, talvez como ninguém. Os três nomes de minha estimação na arte cearense são eles: Oliveira Paiva, Gustavo Barroso e Adolfo Caminha, o autor de A Normalista, embora eu também sinta um pendor pelo meu xará, o autor de Aves de Arribação, o nosso Antônio Sales da Padaria Espiritual. Segundo Lúcia Miguel Pereira, Adolfo Caminha e Oliveira Paiva são os dois intelectuais de grande desenvoltura do romance naturalista e realista. A história da velha uxoricida escrita por Oliveira Paiva, segundo o pesquisador: Ismael Pordeus é mais do que verdadeira. O livro de Oliveira Paiva quase que leva fim, para sempre. Antônio Sales, grande amigo de Paiva, foi quem fez o livro chegar às mãos de Lucia Miguel Pereira que logo fez uma crítica excelente e o livro foi publicado pela editora José Olímpio. O nosso grande escritor Gustavo Barroso fala no seu livro À Margem da História do Ceará sobre a Marica de Paula Lessa, a famosa mariticida que terminou a vida esmolando pelas ruas de Fortaleza. Oliveira Paiva deparou-se com este caso da mulher assassina quando ele foi passar uns dias em Quixeramobim, em casa de parentes. Aos vinte e três anos o jovem escritor Oliveira Paiva começou a sentir os primeiros sintomas da tuberculose. Mesmo tocado pela doença que o levou ao túmulo, o jovem escritor traçou o perfil psicológico da mulher criminosa. O nosso jovem poeta e romancista era filho de um português com uma mulher cearense de nome Isabel de Castro Paiva. Oliveira Paiva casou-se, entretanto eu não sei se deixou filho ou filha. Sei que deixou dois romances famosos para o orgulho da terra de Iracema e máxime dos seus leitores. A tacha maldita, um conto de Oliveira Paiva, mostra com muita simetria a genialidade deste talentoso poeta que fez a sua viagem aos trinta ou trinta e um anos de idade.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 18/11/2013
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