A PRAIA VIROU JARDIM

Eu vi. Eu vi pela televisão, a praia de Copacabana no Rio de Janeiro transformada em um imenso roseiral formado somente de lindas rosas vermelhas.

Imaginei, inicialmente, tratar de um milagre. O cristo Redentor cansado de assistir aquele local de lazer ser transformado em palco das mais patéticas cenas, indo desde o exibicionismo de homens e mulheres seminus, muitas vezes, nas mais desvairadas luxurias, de arrastões e outras sandices mais; resolvera naquela madrugada, enquanto todos dormiam embalados pelo murmúrio do oceano atlântico, transformar a famosa praia em um lindo jardim de belas flores que, apesar de lindas, trazem em seus galhos espinhos capazes de ferir a pele sensível dos precitados freqüentadores.

No segundo momento conclui que fosse tão somente um cenário preparado para um filme ou uma telenovela.

Finalmente, já de todo desperta do meu sono reparador, percebi tratar da cena de uma reportagem.

Não, não era milagre e, também, não era cenário de filme ou de telenovela.

Era sim, a dura realidade que vivemos, mas que preferimos não pensar.

Cada rosa vermelha fincada na areia simbolizava o sangue derramado por uma vítima da violência cruel e crescente na cidade maravilhosa.

A princesinha do mar, durante a madrugada, transformara-se num jardim de dor, de saudades e de um protesto misto de silêncio e grito dos parentes e dos amigos daqueles que sucumbiram pelas mãos de criminosos incontidos, andando livremente pelas ruas, enquanto a população silenciosa e assustada segue presa do seu próprio medo.

Ana Aparecida Ottoni

DF20/04/2007

Ana Aparecida Ottoni
Enviado por Ana Aparecida Ottoni em 20/04/2007
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